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Sistema de irrigação por gotejamento é instalado para impulsionar a produção de sementes e alimentos com certificação orgânica participativa no Sertão do Pajeú-PE


Por Acsa Macena

A iniciativa irá beneficiar cerca de 140 famílias agricultoras ligadas à Associação Agroecológica do Pajeú (ASAP-PE) e servirá de referência para os demais territórios apoiados pelo Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos/Diaconia.

Instalação do sistema de irrigação por gotejamento a partir de poço tubular na Unidade Familiar Produtiva (UFP), Joana Darck, com sistema de filtragem (filtro de disco, manômentro e ventosa) – ASAP-PE, Assentamento Jacu – Sertânia – Sertão do Pajeú/PE.

Um campo pronto para multiplicar novos sonhos e esperanças no Sertão do Pajeú, interior de Pernambuco. Agora, a irregularidade das chuvas na região não assusta a agricultora Joana Darck, presidente da Associação Agroecológica do Pajeú (ASAP/PE), um dos 7 Sistemas Participativos de Garantia (SPGs)/Organismos Participativos de Avaliação da Conformidade (OPACs) apoiados pela Diaconia no âmbito do Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos.

“Com a implantação do sistema de irrigação temos a garantia e a certeza que vamos ter produção. Vamos produzir algodão, milho, gergelim, plantas adubadeiras e outros. É um sonho realizado porque eu não tinha condições. Mas hoje eu vejo esse sonho sendo realizado”, afirma Joana.

Apesar da região semiárida do Nordeste do Brasil está entre as mais chuvosas no mundo, ainda apresenta irregularidades de concentração pois 70 a 80% das chuvas ocorrem apenas de 4 a 5 meses por ano. Diante desse cenário, para contribuir com o fornecimento de água de forma eficiente, a equipe de Diaconia implantou um sistema de irrigação por gotejamento na Unidade Familiar Produtiva (UFP) da agricultora Joana Darck.

Implantação de adutora para o o sistema de irrigação por gotejamento na UFP de Joana Darck, ASAP-PE, Assentamento Jacu – Sertânia – Sertão do Pajeú/PE.

Todos os produtos agrícolas com escopo vegetal primário que sairão do campo irrigado irão receber o Selo Brasileiro Orgânico, uma vez que a ASAP-PE é credenciada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), conquista fundamental para ampliar o acesso a mercados  com agregação de valor pela certificação orgânica participativa, conforme explica o coordendaor do Projeto /Diaconia, Fábio Santiago.

“Esse campo servirá como referência no  território para a produção de  sementes de algodão, de gergelim, de plantas de adubação verde e outros cultivos. Também será uma unidade referencial de intercâmbios. Essa área é controlada do ponto de vista da qualidade orgânica pelo o Sistema Participativo de Garantia (SPG) porque a ASAP-PE é um OPAC  que recentemente recebeu o credenciamento do MAPA”, afirma.

Implantação de adutora para o o sistema de irrigação por gotejamento na UFP de Joana Darck, ASAP-PE,  Assentamento Jacu – Sertânia – Sertão do Pajeú/PE.

“Além disso, com a possibilidade do plantio  em épocas que não sejam de chuva, facilitará também a multiplicação da semente de milho crioulo, pois no momento que não tem outros plantios ao redor,  diminuirá a possibilidade de contaminação por transgênia”, considera Jucier Jorge, assessor técnico de Diaconia.

Apoios para a instalação – A ação aconteceu a partir do apoio da campanha de missões da Igreja Presbiteriana de Pinheiros (IPP-SP), na relação com o Conselho de Ação Social da Igreja Presbiteriana do Brasil (CAS – Conselho de Ação Social da IPB), que fortalece as ações de acesso à água no Semiárido do Nordeste brasileiro.

Além disso, a ação também contou com a contribuição de doadoras e doadores da sociedade civil que acreditam ser possível oferecer vida digna para todas as pessoas, como por exemplo, a partir da segurança hídrica e nutricional. Essa é uma das frentes de atuação de Diaconia há mais de cinco décadas. De acordo com a coordenadora político-pedagógica da Diaconia, Waneska Bonfim, a soma de diferentes apoios possibilita que o resultado seja cada vez mais participativo e eficiente.

“O trabalho de Diaconia é viabilizado por apoios de diferentes instituições e pessoas. Esse campo de sementes é um exemplo de que doações de pessoas físicas podem se juntar ao apoio de igrejas, que também se somam ao apoio da cooperação internacional e de outras empresas. Essa produção de sementes que resultará desse apoio coletivo será utilizada por dezenas de famílias que potencializarão a produção de alimentos no Sertão do Pajeú-PE”, explica.

Sistema de irrigação por gotejamento a partir de poço tubular na Unidade Familiar Produtiva (UFP), Joana Darck – ASAP-PE, Assentamento Jacu – Sertânia – Sertão do Pajeú/PE.

Formar a partir das experiências do campo  – Durante a instalação, também foi realizada uma formação a partir da participação de alunos e alunas da Escola Agrícola Estadual de Sertânia-PE, do curso de Agropecuária com ênfase na irrigação e drenagem.

“Isso contribuiu para ajudá-los/as a entender melhor como a água pode ser usada de forma mais eficiente na agricultura. Reunir os alunos e alunas para acompanhar a implantação do sistema de irrigação também contribuiu para o desenvolvimento de habilidades práticas e a conscientização sobre a importância da sustentabilidade e do cuidado com meio ambiente”, afirma Fábia Cordeiro, professora e Coordenadora do Curso Técnico em Agropecuária.

Alunas e Alunos do Curso Técnico em Agropecuária em Sertânia-PE, durante instalação do sistema de irrigação por gotejmaneto da ASAP-PE, Assentamento Jacu – Sertânia – Sertão do Pajeú/PE.

Detalhes técnicos – O sistema de irrigação por gotejamento foi implantado a partir de um poço tubular (6”) existente, cuja vazão é de 2.800 litros por hora, nível estático de 12 m e nível dinâmico de 16,5 m, e eletrobomba instalada a 24 m. A área irrigada é de 0,43 ha, com a formação de setores (6) de irrigação hidraulicamente independentes (cavaletes hidrálicos com medição de pressão de serviço – manômetro e entrada/saída de ar – ventosa), funcionamento recomendado de um setor por cada vez com tempo de irrigação 1 h e 5 minutos e jornada diária de 6 h e 31 minutos (deve ser ajustado com os dados in loco).

Cavalete hidráulico para formações de setores de irrigação independentes, com ventosa e manômetro, do  sistema de irrigação por gotejamento, UFP de Joana Darck (ASAP-PE), Assentamento Jacu,  Sertânia – Sertão do Pajeú/PE.

Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos – É uma iniciativa coordenada pela Diaconia e tem apoio financeiro da Laudes Foundation através do IDH – Sustainble Trade Initiative, da Inter-American Foundation (IAF), da V. Fair Trade e o Instituto Lojas Renner. No incentivo à gestão e disseminação do conhecimento, o Projeto é parceiro estratégico do FIDA/AKSAAM/UFV/IPPDS/FUNARBE e da Universidade Federal de Sergipe (UFS, Campus Sertão – Nossa Senhora da Glória/SE). Ainda é parceiro do SENAI Têxtil e Confecção da Paraíba, Projeto + Algodão – FAO/MRE-ABC/IBA/Governo do Paraguai, Programa Mundial de Alimentos (PMA) e o Projeto Algodão Agroecológico Potiguar no Rio Grande do Norte. A área de atuação é em 7 territórios e 6 estados na região semiárida do Nordeste do Brasil. Há colaboração com ONGs locais (Instituto Palmas – Alto Sertão de Alagoas, ONG Chapada – Sertão do Araripe/PE­ e Cáritas Diacesana de São Raiumndo Nonato – Sertão do Piauí) para a expansão do cultivo do algodão consorciado e fortalecimento dos  Organismos Participativos de Avaliação da Conformidade (OPACs) – Associções Rurais de Certificação Orgânica Participativa. No Sertão do Cariri, na Paraíba, o assessoramento técnico está sendo realizado pela Arribaçã, tendo ainda a parceria com o CEOP – Território do Curimataú/Seridó.  No Sertão do Pajeú (PE) e Sertão do Apodi (RN), a Diaconia mantém escritórios e atividades e se encarrega da implementação das ações locais do Projeto e parceria com CPT – RN.