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Segunda fase do Projeto reúne novas parcerias para impulsionar a produção agrícola com certificação orgânica participativa no Semiárido nordestino


Por Acsa Macena

O estreitamento das relações entre o comércio justo e a agricultura familiar são fundamentais para o incentivo à produção sustentável, baixa pegada de carbono e uma proposta de pagamentos por serviços ambientais.

Após uma caminhada de mais de quatro anos do Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos, a Diaconia tem ampliado os horizontes para continuar apoiando 7 organizações de base da agricultura familiar no Semiárido nordestino, agora com a expansão de novos apoios internacionais.

Até 2026/2027, instituições apoiarão diretamente o desenvolvimento do algodão consorciado com culturas alimentares, forrageiras e adubação verde, boas práticas que elevem o estoque de carbono no solo – contribuindo para a mitigação de gases de efeito estufa, geração e circulação de renda no  campo e impulsionando a economia local, fortalecimento das mulheres e da juventude rural, incentivo à sustentabilidade dos Sistemas Participativos de Garantia (SPGs)/Organismos Participativos de Avaliação da Conformidade (OPACs), uso de tecnologias poupadoras de mão de obra, acesso a  mercados orgânicos e comércio justo e outros.

Diante disso, a expectativa é que sejam somados novos investidores para a continuidade do Projeto que vem apoiando o fortalecimento da gestão dos SPGs/OPACs em prol da autonomia administrativa e financeira. Essas associações rurais de certificação orgânica participativa têm a oportunidade de direcionar a agricultura familiar à indústria da moda sustentável, a segurança e soberania alimentar e o avanço da cadeia de valor dos outros produtos dos consórcios agroecológicos com certificação orgânica participativa.

Segundo explica o coordenador do Projeto, Fábio Santiago, a partir do apoio da Laudes Foundation na primeira fase (2018/2022), foi possível agregar novas parcerias. A nova fase de 5 anos tem como centralidade o fortalecimento da gestão dos SPGs/OPACs nos 7 territórios e 6 estados na região semiárida do Nordeste, de modo a gerar autonomia financeira e administrativa das organizações de base da agricultura familiar com certificação orgânica participativa.

“Com metodologias de experimentação e disseminação do conhecimento, foi possível gerar conhecimento sobre o desenvolvimento do algodão consorciado em prol das famílias agricultoras. Ademais, foi impulsionado o estabelecimento de novas cadeias de valor para comercialização como o grão do gergelim e a implementação das Unidades de Beneficiamento de Alimentos (UBAs) que servirão para a produção de óleo de gergelim, tahine, pasta de amendoim, feijão ensacado, milho em saca, girassol e sementes de adubação verde. Um banco de dados foi criado para acompanhamento do desempenho de indicadores de geração de renda ampliada, participação de mulheres, entre outros. Foi iniciado estudo para elaboração de proposta de pagamento por serviços ambientais, mediante o manejo das Unidades Familiares Produtivas (UFPs) à luz da qualidade orgânica”, observa.

Diante disso, Santiago explica que foi elaborada uma Nota Conceitual para a nova fase que prevê a consolidação dos objetivos, atividades, indicadores de desempenho e produtos, além de contextualizar a caminhada do algodão agroecológico no Nordeste. Espera-se que novas parcerias se somem às existentes para que o Projeto seja executado com o orçamento previsto. Atualmente, a marcha de execução está 40% do previsto na Nota Conceitual.

Acesse em nossa biblioteca a nota conceitual: https://www.algodaoagroecologico.com/wp-content/uploads/2023/05/-9

Conheça os novos apoios do Projeto – Atualmente, o Projeto tem apoio financeiro da Laudes Foundation através do IDH – Sustainble Trade Initiative, da Inter-American Foundation (IAF), da V. Fair Trade, ligada à marca de calçados franco-brasileira Vert/Veja e o Instituto Lojas Renner.

Nos territórios do Sertão do Cariri-PB e Sertão do Seridó/Curimataú-PB o Projeto estabeleceu uma parceria com o Instituto Lojas Renner, iniciada em outubro de 2022. Além do apoio financeiro ao Projeto, o Instituo apoiará a compra da pluma orgânica e em transição para certificação orgânica de novas famílias que farão parte da ACEPAC-PB. Portanto, o principal resultado desta parceria é a mobilização de novas famílias. Mais de 100 novas famílias agricultoras já foram mobilizadas para o ciclo produtivo de 2023.

Agricultora e mobilizadora social Adeilza Procópio em campo consorciado do algodão no município da Prata-PB.

A gestora do Instituto Lojas Renner, Fabíola Lima, explica que uma das contribuições será o fortalecimento das lideranças femininas dentro dos SPGs/OPACs. “O tema do algodão orgânico é muito importante para o Instituto, já trabalhamos com ele desde 2017. Mas essa parceria vem para a gente evoluir e expandir para outras áreas, além de trazer muito forte o tema que é o propósito do Instituto: o protagonismo feminino e, principalmente, o desenvolvimento das lideranças femininas dentro dos OPACs”, afirma Fabíola.

Fabíola Lima, gestora do Instituo Lojas Renner, no evento de avaliação do Programa Semiárido realizado em Recife (março/2023).

Segundo a gerente de programas da IDH Brasil, Nathália Monea, já está em curso desde o ano passado uma parceria com a Fundação Laudes para um projeto de 5 anos no Semiárido. “Nós vamos desenvolver três pactos no Sertão do Pajeú-PE, Sertão do Cariri-PB e Sertão do Apodi-RN. Esses pactos olham para os territórios na perspectiva de produção sustentável, conservação ambiental e inclusão. E para todo esse trabalho temos ao lado a parceria da Diaconia, a WRI e a NetCap para desenvolver essa proposta que vem das comunidades locais”, explica.

Nathália Monea, gerente de programas da IDH Brasil, no evento de avaliação do Programa Semiárido realizado em Recife (março/2023).

Ainda na perspectiva de fortalecimento das questões de gênero, a marca de calçados franco-brasileira Veja/Vert, que já compra toda a produção de pluma dos 7 territórios apoiados pelo Projeto Algodão/Diaconia há 5 anos, avançará nos apoios através do Departamento Zelar, cujo foco é cuidar das agricultoras e agricultores das associações parceiras.

“O protagonismo das mulheres tem se mostrado cada vez mais importante. Já a juventude, através da inclusão digital e ferramentas online, podem contribuir na gestão diária dos seus SPGs/OPACs. Também queremos trabalhar com a questão dos créditos de carbono, digamos que é um novo produto daqui para frente, para além do algodão e dos produtos dos consórcios. Isso está sendo considerado nessa segunda fase do Projeto”, afirma Carlos Lopes do Zelar – Veja/Vert.

Carlos Lopes (VEJA/Vert), no evento de avaliação do Programa Semiárido realizado em Recife (março/2023).

Já segundo Juliana Menucci, representante local da Inter-American Foundation (IAF), tem sido gratificante ver na base das organizações os resultados do apoio ao Projeto. “Para a IAF é um grande privilégio estar participando numa situação de muitas parcerias, num raio de abrangência muito grande. A gente apoia normalmente organizações envolvidas no movimento de base comunitário mesmo. Então, para a gente conseguir atingir um raio tão grande de território, de organizações, é muito gratificante e escutar as palavras de empoderamento e reconhecimento dos agricultores e das agricultoras em tantas estratégias que estão realmente chegando na base e fazendo a diferença”, afirma.

Juliana Menucci, representante local da Inter-American Foundation (IAF), no evento de avaliação do Programa Semiárido realizado em Recife (março/2023).

Assista o vídeo e acompanhe os depoimentos:

Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos – É uma iniciativa coordenada pela Diaconia e tem apoio financeiro da Laudes Foundation através do IDH – Sustainble Trade Initiative, da Inter-American Foundation (IAF), da V. Fair Trade e o Instituto Lojas Renner. No incentivo à gestão e disseminação do conhecimento, o Projeto é parceiro estratégico do FIDA/AKSAAM/UFV/IPPDS/FUNARBE e da Universidade Federal de Sergipe (UFS, Campus Sertão – Nossa Senhora da Glória/SE). Ainda é parceiro do SENAI Têxtil e Confecção da Paraíba, Projeto + Algodão – FAO/MRE-ABC/IBA/Governo do Paraguai, Programa Mundial de Alimentos (PMA) e o Projeto Algodão Agroecológico Potiguar no Rio Grande do Norte. A área de atuação é em 7 territórios e 6 estados na região semiárida do Nordeste do Brasil. Há colaboração com ONGs locais (Instituto Palmas – Alto Sertão de Alagoas, ONG Chapada – Sertão do Araripe/PE­ e Cáritas Diocesana de São Raimundo Nonato – Sertão do Piauí) para a expansão do cultivo do algodão consorciado e fortalecimento dos Organismos Participativos de Avaliação da Conformidade (OPACs) – Associações Rurais de Certificação Orgânica Participativa. No Sertão do Cariri, na Paraíba, o assessoramento técnico está sendo realizado pela Arribaçã, tendo ainda a parceria com o CEOP – Território do Curimataú/Seridó.  No Sertão do Pajeú (PE) e Sertão do Apodi (RN), a Diaconia mantém escritórios e atividades e se encarrega da implementação das ações locais do Projeto e parceria com CPT – RN.