Associação Agroecológica do Pajeú-PE (ASAP-PE) recebe formação para funcionamento da Unidade de Beneficiamento de Alimentos (UBA)
Por Acsa Macena

No Sertão do Pajeú-PE, entre os dias 12/09 e 14/09, agricultoras e agricultores da Associação Agroecológica do Pajeú (ASAP/PE) participaram da oficina de implantação e funcionamento da Unidade de Beneficiamento de Alimentos, que em breve será inaugurada. A formação foi conduzida pela equipe da Diaconia, no âmbito do Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos, e buscou profissionalizar todas as etapas que envolvem a gestão, limpeza, produção, embalagem e comercialização dos alimentos com certificação orgânica participativa e sementes de adubação verde.
“Discutimos a gestão e organização da UBA e o beneficiamento das 9 linhas de produtos (óleo de gergelim, tahine, gergelim fracionado, pasta de amendoim, amendoim cru e torrado, girassol fracionado, milho em saca e feijão ensacado), além das sementes de adubação verde. Também apresentamos os Procedimentos Operacionais Padronizados (POPs), as tabelas de anotações, a questão dos preços de cada produto e orientações sobre preenchimento dos caderno de anotações, que serão um para cada produto”, afirma o consultor do Projeto/Diaconia, Hélio Nunes.

Segundo a agricultora e presidente da ASAP/PE, Joana Darck, com a garantia da venda de culturas como o gergelim, amendoim, milho, girassol e feijão para as UBAs, já existe uma boa movimentação dos/das agricultores/as no território para ampliar a diversidade de culturas nos consórcios.
“Eu já vi os olhares das pessoas que entregaram e receberam pelas sementes que foram entregues e querem plantar mais com a expectativa do novo plantio e das próximas chuvas, pois sabem que terão onde entregar a sua produção e que irão receber por isso. Vimos cada passo de funcionamento e o processo de chegada, limpeza, gestão. Para isso, precisaremos que a gestão seja ampliada, pois não podemos ter apenas uma pessoa assumindo. Nossa expectativa é que esses produtos cheguem no mercado e já temos a certeza de que será o maior sucesso”, afirma.


Para a Maria de Lourdes, uma das agricultoras da ASAP/PE que ficará responsável pelo funcionamento da UBA, a expectativa é de alcançar novos mercados pela sua associação. “O que mais chamou minha atenção foi o processo de tratar os alimentos com todo rigor e higiene para qualidade dos produtos. Aprendi bastante e minha expectativa agora é inaugurar a UBA e fazê-la funcionar com muito sucesso, vendendo os produtos para o Brasil inteiro”, afirma.
Só para se ter uma ideia, no caso do gergelim para a fabricação do tahine, o valor agregado para o/a agricultor/a responsável por garantir a matéria prima será de aproximadamente R$60,00 a cada quilo, enquanto a venda do quilo do gergelim para o mercado orgânico custa atualmente R$7,00. O adiantamento do valor da matéria-prima só é possível devido a estratégia de criação do Fundo Rotativo Solidário (FRS), que funciona como uma espécie de crédito e possibilita o custeio da produção.

De acordo com o assessor técnico de Diaconia, Erickson Macena, “tudo é muito novo para a ASAP/PE. É algo que nunca se pensou antes, a possibilidade do/a agricultor/a beneficiar e comercializar sua produção. O primeiro desafio é conscientizar as famílias a terem a certeza de que produzindo, irão ter um lugar para levar a matéria prima e receber a partir do FRS o valor imediato correspondente à matéria prima. A produção deve ser cada vez mais diversificada porque tem um prédio que beneficiará vários produtos certificados pelo Sistema Participativo de Garantia (SPG)”, afirma.

Além da criação de fluxos para a chegada da matéria prima, outro desafio colocado é a conquista por mercados para a comercialização. Para isso, foi realizado o mapeamento dos primeiros locais que serão visitados pela ASAP/PE, assim como estratégia de apresentação dos produtos. Entre os locais estão supermercados da região e lojas de produtos naturais como: Armazém do Campo, Agroecoloja, Açaí, Atacadão, Avistão e outros.
De acordo com o coordenador do Projeto/Diaconia, Fábio Santiago, esse é um momento histórico para a profissionalização da ASAP-PE, uma associação rural de certificação orgânica participativa que tem o credenciamento ao MAPA para emissão do selo brasileiro em produtos agrícolas em Unidades Familiares Produtivas (UFPs).
“A UBA representa uma estratégia de avançar em novas cadeias produtivas com alto valor agregado em diálogo com a sociedade. Ao mesmo tempo fortalece a concepção do policultivo dos consórcios agroecológicos. Os produtos como tahine, óleo de gergelim, feijão ensacado, entre outros, apresentam grande interesse pela população. Como exemplo, a pasta de amendoim é uma excelente fonte de fibra (27%), proteína (14%), ferro (14%), e cálcio (4%). Por outro lado, possui baixo teor energético (4%). A entrada na economia formal requer uma ASAP-PE com os processos de controle e gestão à luz de Procedimentos Operacionais Padronizados (POPs) que garantam a qualidade dos produtos e uma frequência de oferta. Para tanto, o Projeto preparou um amplo programa de formação continuada em gestão de funcionamento da UBA numa perspectiva de comercialização para os mercados locais e outros. Um dos desafios é formar pessoas da ASAP-PE que tenham perfil para a gestão dos instrumentos de controle de funcionamento da UBA, e uma diretoria envolvida plenamente nos processos de avanço para um associativismo que dialogue em diferentes mercados”, afirma.

Ainda segundo Santiago, “isso tudo retroalimentará a diversidade dos consórcios agroecológicos com algodão e elevação da renda agrícola para as famílias agricultoras. Ademais, fortalece uma associação de base com identidade da marca da agricultura familiar com certificação orgânica participativa na sociedade. A partir da entrada da ASAP -PE nas prateleiras com produtos de alta qualidade para a saúde da população, a sociedade contribuirá diretamente para melhor distribuição de riqueza com outras marcas de mercado.
Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos – É uma iniciativa coordenada pela Diaconia e tem apoio financeiro da Laudes Foundation através do IDH – Sustainble Trade Initiative, da Inter-American Foundation (IAF), da V. Fair Trade e o Instituto Lojas Renner. No incentivo à gestão e disseminação do conhecimento, o Projeto é parceiro estratégico do FIDA/AKSAAM/UFV/IPPDS/FUNARBE e da Universidade Federal de Sergipe (UFS, Campus Sertão – Nossa Senhora da Glória/SE). Ainda é parceiro do SENAI Têxtil e Confecção da Paraíba, Projeto + Algodão – FAO/MRE-ABC/IBA/Governo do Paraguai, Programa Mundial de Alimentos (PMA) e o Projeto Algodão Agroecológico Potiguar no Rio Grande do Norte. A área de atuação é em 7 territórios e 6 estados na região semiárida do Nordeste do Brasil. Há colaboração com ONGs locais (Instituto Palmas – Alto Sertão de Alagoas, ONG Chapada – Sertão do Araripe/PE e Cáritas Diocesana de São Raimundo Nonato – Sertão do Piauí) para a expansão do cultivo do algodão consorciado e fortalecimento dos Organismos Participativos de Avaliação da Conformidade (OPACs) – Associações Rurais de Certificação Orgânica Participativa. No Sertão do Cariri, na Paraíba, o assessoramento técnico está sendo realizado pela Arribaçã, tendo ainda a parceria com o CEOP – Território do Curimataú/Seridó. No Sertão do Pajeú (PE) e Sertão do Apodi (RN), a Diaconia mantém escritórios e atividades e se encarrega da implementação das ações locais do Projeto e parceria com CPT – RN.
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