Associações rurais de certificação orgânica participativa do Semiárido comemoram a venda direta do gergelim cultivado em consórcios agroecológicos com o algodão para a marca Sésamo Real
Por Acsa Macena
Para a safra de 2023, são previstas quase 50 toneladas de gergelim a granel em transição e com certificação orgânica participativa. Além disso, agricultoras e agricultores receberão prêmios de incentivo à autonomia financeira das suas organizações e por contribuição para a redução de gases de efeito estufa através do modelo de cultivo sustentável
O ano novo começou com boas notícias e novas conquistas para mais de 1.400 famílias que estão associadas aos Sistemas Participativos de Garantia (SPGs), Organismos Participativos de Avaliação da Conformidade (OPACs), ou seja, associações rurais de certificação orgânica participativa que controlam a qualidade orgânica em unidades familiares produtivas (UFPs), em 6 estados e 8 territórios do Semiárido nordestino no âmbito do Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos.
Agora, a safra de 2023 do gergelim em transição e com certificação orgânica participativa conta com a venda garantida para o mercado orgânico e comércio justo, além da pluma do algodão que já é comercializada dentro dos princípios de valorização da certificação orgânica participativa. A quantidade de gergelim orgânico e em transição para certificação orgânica inicialmente prevista é de 49.500kg, colocando mais de R$400.000,00 em circulação para as famílias envolvidas e suas organizações.
“A parceria com a Sésamo Real é uma oportunidade de exercitar a profissionalização dos SPGs/OPACs, com perspectiva de acesso a mercados, gerando referência e visibilidade para novos negócios. Estamos na segunda fase do Projeto que tem como foco principal avançar na maturidade organizacional dos SPGs/OPACs e aproximar novos modelos de negócios das organizações de base da agricultura familiar, colocando para sociedade produtos que carregam a oportunidade para o desenvolvimento sustentável dessas organizações, visando uma economia circular, regenerativa e de baixo carbono”, considera Fábio Santiago, coordenador do Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos/Diaconia.
A nova parceria foi firmada entre os 7 Organismos de Avaliação da Conformidade Orgânica dos Sistemas Participativos de Garantia (SPGs/OPACs) – que são apoiados pelo Projeto Algodão/Diaconia no Semiárido nordestino – e a empresa familiar Sésamo Real. A marca é conhecida internacionalmente há mais de 30 anos. Foi fundada pelos irmãos Tulio e Fábio Benatti. É pioneira na fabricação de alimentos produzidos com o gergelim orgânico. Entre eles estão óleos, tahine e os grãos que são distribuídos para a indústria de alimentos saudáveis, inclusive para atender aos profissionais e apreciadores da culinária asiática.
“A Sésamo Real atua no mercado e comercialização de gergelim desde 1988, fomentando a Agroecologia e a Agricultura Familiar na originação desses grãos. Para nós é uma honra e grande satisfação apoiar um projeto que pode gerar renda de forma sustentável. Sabemos dos desafios da agricultura e entendemos que apoiar tanto o gergelim em processo de certificação, como o gergelim orgânico, é uma forma de incentivar e fortalecer essa cadeia produtiva”, considera Agnus Bahia Benatti, Engenheiro Agrônomo e gerente de negócios da Sésamo Real.
Comércio justo e fortalecimento da agricultura familiar – Após a realização de reuniões remotas com agricultores e agricultoras que representam os 7 SPGs/OPACs, técnicos/as, parceiros/as e coordenação, os valores acordados para a venda foram de R$7,50 por quilo de gergelim orgânico e de R$6,75kg pelo gergelim em transição, conforme acordado nos contratos, cuja validade é de 2 anos. Ademais, haverá sobre os preços um acréscimo de R$ 1,50 de premiação (R$ 0,75/kg para cada agricultor ou agricultora por pagamento de serviços ambientais e R$ 0,75/kg para o FIAF do SPG/OPAC). Então, o valor final do quilo do gergelim em transição é de R$ 8,25 e o orgânico é de R$ 9,00.
“Foi muito emocionante e gratificante poder conhecer, ainda que de forma virtual, alguns membros, da ACEPAC/PB, ACOPASA/RN, ACOPASE/SE, APASPI/PI, ASAP/PE, ECOARARIPE/PE e Flor de Caraibeira/AL. Pudemos conversar bastante e sentimos estar muito bem alinhados com o projeto. Enxergamos o trabalho da Diaconia essencial para nossa interação com os/as parceiros/as. Queremos agora conhecer pessoalmente os agricultores e agricultoras e as áreas de produção do projeto, e queremos receber visitas dos representantes aqui na Sésamo Real”, afirma Agnus.
Segundo a agricultora multiplicadora e presidente da Associação Agroecológica do Pajeú (ASAP-PE), Joana Darck, a parceria refletiu a capacidade de autonomia e negociação direta entre os SPGs/OPACs e a empresa compradora. “Isso significa a valorização do agricultor e da agricultora. Mesmo tendo o apoio da Diaconia, fomos nós que decidimos todo processo que foi realizado por nós mesmos. Dentro da ASAP-PE, temos famílias que só pensavam no algodão. Agora sabendo dessa venda garantida para o gergelim, conseguimos a permanência de famílias que vão investir mais nessa cultura, assim como a chegada de novas no projeto”, afirma.
Para a agricultora multiplicadora e presidente da Associação de Certificação Orgânica Participativa do Sertão do Apodi, Antonieta Pierre, esse é um momento histórico para a ACOPASA-RN. “Estamos entusiasmados com essa venda direta da nossa primeira negociação da safra de 2023. É um ato histórico, sabendo que já temos duas empresas negociando diretamente conosco diferentes cadeias produtivas dos consórcios”, comemora.
A expectativa da Associação de Certificação Orgânica Participativa de Agricultores e Agricultoras do Alto Sertão de Sergipe também é de garantir a venda do gergelim, cultura que já é conhecida e utilizada na alimentação das agricultoras e agricultores, tanto in natura quanto beneficiada, a exemplo do óleo e do tahine.
“Esperamos trabalhar certo para chegar com o produto e aumentar nossas entregas, pois estamos fazendo um trabalho de alta qualidade, cultivando a terra com respeito e valorizando a mãe terra”, afirma Iva de Jesus, agricultora multiplicadora e presidente da ACOPASE/SE.
“Hoje o meio ambiente pede socorro ao mundo. Todos deveriam se preocupar para melhorar a situação ambiental no país e no mundo. Então essa parceria também veio gerar benefícios no bolso do agricultor e da agricultora que fazem sua parte para melhorar o meio ambiente”, afirma Jonilson Pereira, presidente da Associação dos/das Produtores/as Agroecológicos do Semiárido Piauiense (APASPI-PI).
De acordo com Rosana Pereira, agricultora e presidente da Associação de Certificação Orgânica Participativa Flor de Caraibeira – AL, a parceria veio gerar inúmeros benefícios. “A importância dessa venda direta no mercado orgânico significa a consolidação do nosso SPG/OPAC, mais valor agregado. Quanto mais venda, além dos agricultores e agricultoras ganharem, a Flor também ganha, visto que há um percentual destinado a Flor a cada negociação, podendo se firmar e contribuir com o desenvolvimento de cada família envolvida”, diz.
Já segundo a agricultora e presidente da Associação Agroecológica de Certificação Participativa do Cariri Paraibano – ACEPAC/PB, Amanda Procópio, a parceria com a venda direta do gergelim deverá oportunizar o fortalecimento da organização de base da agricultura familiar. “Fortalecendo o FIAF teremos autonomia para o SPG/OPAC continuar se mantendo. Precisamos desse recursos para estarmos mais juntos e juntas às necessidades dos agricultores e agricultoras”.
Também foi acordado que a Sésamo irá arcar com os custos relacionados ao empacotamento do gergelim, o ICMS, transporte interterritorial, além de ofertar sementes, se necessário, e providenciar estações de tratamento e limpeza do gergelim em pontos estratégicos.
Pensando nisso, foi traçado o estabelecimento de metas para o fornecimento das toneladas para os 7 SPGs/OPACs. A Associação de Agricultoras e Agricultores Agroecológicos do Araripe (ECOARARIPE/PE), SPG/OPAC com maior quantidade de gergelim prevista (15.000kg) para entrega, segue confiante na safra de 2023 e na qualidade dos grãos que serão comercializados.
“O gergelim e seus benefícios já são conhecidos pela a ECOARARIPE/PE, pois as famílias aprenderam a cultura o gergelim com seus antepassados, sabendo da importância na alimentação e na saúde para garantir uma alimentação saudável. Hoje também cultivamos o gergelim para ajudar no controle do consórcio, garantindo um equilíbrio entre as culturas do consórcio. Será mais um desafio garantir essa qualidade que está no contrato, mas estamos confiantes que será uma boa safra”, afirma Adeilma Silva, agricultora e presidente da ECOARARIPE/PE.
Já segundo a agricultora e presidente da Associação Agroecológica de Certificação Participativa do Cariri Paraibano (ACEPAC-PB), Amanda Procópio, a própria certificação orgânica participativa já é um importante indicador da qualidade da matéria-prima que está sendo comercializada, isto é, o conjunto de regras e metodologias que são seguidas para atestar a conformidade orgânica das produções.” Quando acessamos o mercado orgânico estamos agregando valor ao nosso produto com o selo brasileiro orgânico, o que garante a qualidade do produto, além de melhorar a alimentação de quem vai consumi-los”, afirma.
Diante disso, é fomentada a sustentabilidade das famílias e organizações, através da parceria que vai além da compra do gergelim com selo orgânico por SPG e em transição para certificação orgânica. “Isso serve como forma de incentivar novas famílias, pois estão sendo seguidos princípios do comércio justo como por exemplo: assinatura de compromisso de compra da produção antecipado para gergelim, negociação de preços entre empresa e agricultores/as, prêmio para as famílias, prêmio social para fortalecimento dos OPACs, possibilidade de investimento em máquinas para limpeza do gergelim e assessoramento técnico”, considera Fábio Santiago, coordenador do Projeto.
Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos – É uma iniciativa coordenada por Diaconia, em parceria estratégica com a Universidade Federal de Sergipe (UFS, Campus Sertão – Nossa Senhora da Glória/SE). O Projeto conta com o apoio financeiro da Laudes Foundation em parceria com o IDH – Sustainble Trade Initiative, da Inter-American Foundation (IAF), do FIDA/AKSAAM/UFV/IPPDS/FUNARBE, da V. Fair Trade e o Instituto Lojas Renner (IR). O Projeto ainda é parceiro do SENAI Têxtil e Confecção da Paraíba, e com o Projeto + Algodão – FAO/MRE-ABC/Governo do Paraguai/IBA. Para a execução do Projeto nos territórios, a Diaconia estabeleceu parcerias com ONGs locais com experiência em Agroecologia que são responsáveis pelo assessoramento técnico para fortalecer os Organismos Participativos de Avaliação da Conformidade Orgânico (OPACs) e a produção agroecológica. No Sertão do Piauí, a Cáritas Diocesana de São Raimundo Nonato desenvolve as atividades na Serra da Capivara. No Sertão do Cariri, na Paraíba, o trabalho está sendo realizado pela Arribaçã, tendo ainda a parceria com o CEOP – Território do Curimataú/Seridó da Paraíba. No Sertão do Araripe, em Pernambuco, as ONGS CAATINGA e CHAPADA assumiram conjuntamente as ações do Projeto. As atividades no Alto Sertão de Alagoas e no Alto Sertão de Sergipe estão a cargo do Instituto Palmas e do Centro Dom José Brandão de Castro (CDJBC), respectivamente. No Sertão do Pajeú (PE) e no Oeste Potiguar (RN), territórios onde a Diaconia já mantém escritórios e atividades, ela mesma se encarrega da implementação das ações locais do Projeto e parceria com CPT – RN.
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