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Beneficiamento do gergelim tem início no Sertão do Araripe (PE)


Após o algodão, o projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos passa a beneficiar o gergelim para a produção de óleo, tahine e grão fracionado

Durante a oficina foram produzidos óleo, tahine e gergelim fracionado

O Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos avança no beneficiamento das culturas consorciadas nos territórios onde atua. Desta vez é o gergelim, oleaginosa que passou a ser processada, organicamente, dando origem a três produtos: óleo, tahine e gergelim fracionado. As famílias agricultoras dos territórios do Sertão do Araripe (PE) e Serra da Capivara (PI), são as primeiras a beneficiar a cultura e já começam a vislumbrar uma nova perspectiva de geração de renda além do algodão. Durante os dias 29 e 30 de novembro, e 01 de dezembro, um grupo de agricultoras e agricultores desses dois territórios se reuniu no município de Exu (PE) para aprender a beneficiar o gergelim. Na ocasião, foi dado o pontapé inicial para a produção do óleo do gergelim, Tahine (pasta de gergelim, a exemplo da tradicional pasta do amendoim) e do fracionamento da oleaginosa já torrada e pronta para o consumo. A formação aconteceu nas dependências da agroindústria da Associação dos Agricultores e Agricultoras Familiares da Serra dos Paus Dóias (Agrodóia), zona rural de Exu, a 670 quilômetros do Recife. Estiveram presentes na oficina representantes da Diaconia, Embrapa Algodão, dos OPACs Ecoararipe e Apaspi, e das ongs Caatinga, Chapada e Cáritas Diocesana, de São Raimundo Nonato (PI).

Grupo de agricultores e agricultoras, juntamente com a equipe técnica do projeto

Durante três dias de atividades, o grupo foi capacitado para produzir os três produtos considerando a preparação e o manuseio das máquinas, lavagem e secagem do gergelim e formação prática para testar as habilidades. Aproximadamente 50 quilos do gergelim foram utilizados na oficina gerando, em apenas duas horas de produção, 18 litros de óleo, 8,5 kg de tahine e 6,6 quilos de gergelim fracionado. O beneficiamento do gergelim foi viabilizado pelo Instituto InterElos no âmbito da parceria do projeto, juntamente com a Associação de Agricultores e Agricultoras Agroecológicos do Araripe (Ecoararipe), que é um Organismo Participativo de Avaliação de Conformidade (OPAC), integrante do projeto do algodão que, juntos, estão estruturando a cadeia de valor dos produtos do consórcio no território na geração do Selo Brasileiro Orgânico.

A agricultora Aldenora Lima, de Araripina, colheu 110 quilos de gergelim

Durante a oficina foi possível sentir os sentimentos de expectativa e alegria das famílias que produziram quase três toneladas do gergelim somente este ano nos municípios de Ouricuri, Trindade, Araripina, Ipubi, Santa Cruz, Santa Filomena, Parnamirim, Bodocó, Exu e Granito, em Pernambuco. Também participaram agricultoras e agricultores dos municípios da Serra da Capivara, no Piauí, outro território de atuação do projeto. A agricultora Aldenora Maria Lima, moradora do Sítio Alho Nascente, município de Araripina, em Pernambuco, não vê a hora de ver a sua produção de gergelim ir parar nas prateleiras das lojas, mercadinhos e bancas das feiras agroecológicas. Ela produziu 110 quilos de gergelim este ano. “Estou achando muito importante essa oficina. Aprendi muita coisa. Espero aumentar a minha produção no próximo ano para poder fabricar bastante óleo, tahine que é uma novidade para mim, e produzir doce que é uma tradição aqui na região”.

Ilza de Jesus irá plantar o gergelim no próximo ano

Ilza de Jesus, produtora do sítio Caracuí, em Ouricuri (PE), não produziu gergelim este ano por causa das chuvas intensas, mas estava na oficina para aprender a beneficiar a cultura. “Desde criança eu aprendi a fazer algumas coisas com o gergelim como doce, farofa e comer o gergelim com frutas. Mas todos os dias a gente aprende algo novo. E nessa oficina eu aprendi a fazer o Tahine que eu não conhecia. Conhecimento muito rico. Essa proposta da oficina, com o apoio da Ecoararipe vai nos ajudar muito a conseguir uma renda extra”.

Grupo recebendo instruções para a lavagem e secagem do gergelim

Um dos objetivos do beneficiamento é inserir o gergelim produzido pelos territórios no mercado consumidor e com isso, influenciar nos hábitos alimentares da população acerca dos benefícios dos produtos derivados desta cultura. Por essa razão, a InterElos deu início a uma articulação com a Ecoararipe para agregar valor ao gergelim. A princípio, o beneficiamento seria, apenas, para fracionar o produto em sacos de 150 gramas. Mas os estudos apontaram a importância de aumentar a oferta de produtos com a inclusão do óleo e do tahine, cuja oficina foi facilitada pela produtora artesanal e microempreendedora Vládia Lima. “A nossa estrutura permite produzir esses dois subprodutos do gergelim. E foi por isso que a InterElos, com base num estudo de mercado, agregou mais valor à cultura com a oficina de tahine e do óleo. Por essa razão nasceu esta primeira oficina, uma vez que tínhamos todo o maquinário mas não tínhamos pessoas habilitadas”, disse o presidente da Ecoararipe, Lídio Parente. Segundo ele, os próximos passos precisarão de um planejamento estratégico. “Agora vamos dimensionar a capacidade de produção desses produtos para dar início à nossa entrada nos mercados. Sabemos que a produção de gergelim, somente aqui no Araripe, pode chegar a 40 toneladas, a depender das chuvas”.

Vládia Lima, produtora artesanal do tahine, explicando o processo de envazamento

Renata Barros, consultora do InterElos, explicou como se deu o processo de construção da oficina de beneficiamento.  “Através da organização que financia o projeto, o Instituto foi acionado para estruturar uma cadeia de valor dos produtos fabricados a partir do gergelim. Nos nossos estudos chegamos ao óleo, tahine e o fracionado, itens em que há viabilidade de comercialização. Contudo, a Ecoararipe precisará contar com uma equipe dedicada às vendas e à inserção desses produtos no mercado. Nós, do InterElos, iremos fornecer uma lista de possíveis compradores dos produtos para ajudar a escoar a produção que está tendo início aqui”.

Agricultores e agricultoras comemorando a extração do óleo do gergelim

Um outro item apontado para fazer parte da oferta de produtos foi o doce de gergelim, conhecido na região como “doce espécie”, um alimento tradicional na região Nordeste que as famílias agricultoras já produzem há décadas. “O beneficiamento do gergelim faz parte de uma das estratégias do projeto de valorização de todos os produtos e alimentos cultivados pelas famílias nos consórcios dos plantios. Assim como a pluma do algodão e o gergelim, estamos, junto com a InterElos, em busca de estratégias de acesso à mercados para o milho e o feijão, na intenção de valorizar a diversidade de alimentos produzidos pelas famílias sertanejas”, acrescentou Ita Porto, técnica do projeto pela Diaconia que acompanha as ações junto a InterElos.

Comemoração da produção final obtida durante a oficina

A partir desta oficina, e com os ajustes comerciais necessários, a tendência será empoderar ainda mais as famílias agricultoras do projeto para que tanto o gergelim como o algodão se tornem culturas com mais visibilidade e oportunidade de comercialização exitosos.

Embrapa Algodão – A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária passou a trabalhar com o gergelim em 1986. Desde então, tem atuado no lançamento de cultivares mais produtivas e adaptáveis a quaisquer ambientes, produzindo mais óleo e sendo mais resistentes a pragas e outras infestações. Participaram da oficina, o pesquisador Marenilson Batista e a pesquisadora Nair Arriel. A pesquisadora – responsável pelas pesquisas de desenvolvimento do gergelim da Embrapa -, falou sobre a importância do gergelim em diversos aspectos, resgatou a importância histórica do gergelim no Semiárido, produzido pelas famílias agricultoras, assim como reforçou a excelente qualidade do gergelim produzido em bases agroecológicas no Semiárido, colhido manualmente e cultivado livre de agrotóxicos.

Projeto Algodão – O Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos é uma iniciativa coordenada por Diaconia, em parceria estratégica com a Embrapa Algodão e a Universidade Federal de Sergipe (UFS, Campus Sertão – Nossa Senhora da Glória). O projeto conta com o apoio técnico e financeiro do Instituto C&A.

Para a execução do projeto nos territórios, a Diaconia estabeleceu parcerias com ONG’s locais com experiência em Agroecologia que serão responsáveis pelo assessoramento técnico para fortalecer os OPAC’s e a produção agroecológica.

No Sertão do Piauí, a Cáritas Diocesana de São Raimundo Nonato desenvolve as atividades na Serra da Capivara. No Sertão do Cariri, na Paraíba, o trabalho está sendo realizado pela Arribaçã. No Sertão do Araripe, em Pernambuco, as ONG’s Caatinga e Chapada assumiram conjuntamente as ações do projeto. As atividades no Alto Sertão de Alagoas e no Alto Sertão de Sergipe estão a cargo do Instituto Palmas e do Centro Dom José Brandão de Castro, respectivamente.

No Sertão do Pajeú (PE) e no Oeste Potiguar (RN), territórios onde a Diaconia já mantém escritórios e atividades, ela mesma se encarrega da implementação das ações locais do projeto.