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Central da Caatinga passa a comercializar produtos com certificação orgânica participativa da ECOARARIPE/PE


Com a venda da pluma do algodão já garantida, o acesso a mercados para outros produtos dos consórcios agroecológicos é fundamental para consolidação da sustentabilidade dos SPGs/OPACs

Gerente comercial da Central da Caatinga, Isa Santana (à esquerda) e Adeilma Silva, tesoureira da Ecoararipe/PE, em primeira entrega à Central da Caatinga – Juazeiro/BA

Mais de 500 famílias agricultoras ligadas à Associação de Agricultoras e Agricultores Agroecológicos do Araripe (ECOARARIPE/PE) – Organismo Participativo de Avaliação da Conformidade Orgânica (OPAC) que controla a conformidade orgânica em unidades familiares produtivas por meio do Sistema Participativo de Garantia (SPG) – avançam nas cadeias produtivas além do algodão. Isso, a partir de nova parceria para a comercialização dos produtos com certificação orgânica participativa. Entre eles estão o óleo de gergelim, tahine, pasta de amendoim e feijão macassar, que agora podem ser encontrados na Central de Comercialização das Cooperativas da Caatinga (Armazém da Caatinga).

Como protagonistas de todas as etapas que compreendem o processo de preparo do solo, colheita, pós-colheita, beneficiamento e comercialização, agricultores e agricultoras comemoram a conquista da venda direta, assim como da consecutiva agregação de valor aos produtos para além do algodão, conforme explica Adeilma Silva, agricultora multiplicadora e tesoureira da ECOARARIPE/PE.

“É uma conquista para todas as famílias que vem buscando espaço para comercialização das outras culturas dos consórcios. Também vem mostrar o objetivo do Projeto Algodão em fortalecer as famílias para que eles e elas comercializem os produtos com preço justo e livre de atravessadores, tendo em vista que o contato direto com as famílias faz com que tenhamos alegria em saber que somos nós que estamos fazendo desde o cultivo até a comercialização”, explica.

Localizada no município de Juazeiro – BA, a Central é uma articulação de organizações socioeconômicas de agricultores e agricultoras familiares do Semiárido brasileiro que organiza a comercialização dos produtos e serviços da agricultura familiar. De acordo com a coordenadora institucional e de mercado, Denise Cardoso, essa é uma oportunidade de publicizar o processo de certificação orgânica participativa. “Conhecemos os produtos da ECOARARIPE/PE na Feira da Agricultura Familiar em Natal-RN e geramos o interesse em adquirir por se tratar de produtos com qualidade, mas principalmente por ser produtos orgânicos e da agricultura familiar. [Isso] traz a valorização e fortalece os modelos de certificação participativa, além de tornar esse processo de certificação orgânica mais conhecido na região do Vale do São Francisco e a Bahia”, afirma.

Stand de comercialização da ECOARARIPE/PE na 1ª FENAFES – Natal/RN

Além dos produtos processados e ensacados, a ECOARARIPE/PE busca avançar na comercialização de outras linhas de produção como plantas de adubação verde, a exemplo da crotalária, feijão de porco, lab lab, mucuna cinza, mucuna preta, cunhã e outras, o que deve ampliar as perspectivas de avanço para diferentes mercados. “Estamos expondo um produto de qualidade através do SPG que vem direto do roçado para a mesa da sociedade. Esse espaço recebe centenas de visitas e turistas, e a região de Petrolina/PE e Juazeiro/BA fazem compras ali. Nossos produtos geram saúde, além de gerar autonomia financeiras para as famílias agricultoras. A ECOARARIPE/PE também está se organizando para acessar outros mercados para a linha de plantas de adubação verde”, observa o agricultor multiplicador e secretário da ECOARARIPE/PE, Edjunho Tavares.

Para o coordenador do Projeto Algodão/Diaconia Fábio Santiago, essa experiência irá servir de referência para os demais SPGs/OPACs apoiados pelo projeto na região semiárida do Nordeste do Brasil, bem como para a formulações de políticas públicas de fortalecimento para a agricultura familiar. “Espera-se com isso incrementar os fluxos financeiros de entrada para os agricultores e agricultoras do SPG/OPAC ao longo do ano, colocar uma organização rural de certificação orgânica com sua marca nas prateleiras, impulsionar a economia circular e gerar capacidade de criar vínculos sociais com mais famílias no processo de SPG/OPAC. Vamos continuar apoiando os SPGs/OPACs na profissionalização para cada vez mais e que possam ganhar autonomia financeira e capacidade gerencial de cuidas das suas funções.  É um modelo que vem contribuindo também para resiliência das UFPs pelas mudanças climáticas e menor emissão de gases de efeito estufa”, explica.     

Coordenador do Projeto Algodão/Diaconia Fábio Santiago e agricultor multiplicador Pedro Nogueira, em campo consorciado de algodão no município de Ipubi – Sertão do Araripe/PE

SPGs/OPACs no Nordeste e desafios para a comercialização – Muito mais do que vender, o acesso a mercados surge como oportunidade efetiva de desenvolver a sustentabilidade dos SPGs/OPACs, que são responsáveis pelo processo de produção e certificação participativa para geração do selo brasileiro orgânico. É importante observar que os passos para consolidação desse tipo de certificação por 7 organizações rurais que são apoiadas no âmbito do projeto, continuar a exigir resiliência e esforços que remota uma década.

Até 2009, existiam apenas 5 SPGs/OPACs no Brasil, todos concentrados na região Sul e Sudeste. Em 2012, a partir de intercâmbios entre a equipe da Rede Ecovida-RS e do Projeto Algodão, no âmbito do antigo Programa do Governo Federal Dom Hélder Câmara (PDHC), foi apoiada a criação de 7 SPGs/OPACs no Nordeste, resultando em quase na metade da quantidade de iniciativas do país para o Semiárido.

Sendo assim, na contramão de um cenário dominado pela certificação orgânica por auditoria, geralmente de altíssimo custo e realizada por agentes externos, o modelo da certificação orgânica participativa da pioneira Rede Ecovida-RS, inspirou a formação dos demais SPGs/OPACs no Nordeste, regidos pela legislação brasileira de orgânicos e controlada socialmente pelas organizações de base da agricultura familiar.

Ao acompanhar esse movimento de avanço para a comercialização de outros produtos, além da pluma do algodão que já tem venda garantida, o agroecólogo, escritor, presidente do OPAC Rede Ecovida e coordenador do Centro Ecológico/RS Laércio Meirelles, explica que esse movimento é oportuno e necessário: “As organizações de famílias agricultoras precisam ampliar sua presença no mercado, mais ainda as que oferecem produtos orgânicos, que vem sendo muito procurados. Conhecendo um pouco a realidade de quem produz algodão em consórcio agroecológico, percebo que é necessário incorporar os produtos do consórcio e das propriedades nos processos de comercialização”, afirma.

Laércio Meirelles, durante evento realizado no Assentamento Zé Marcolino – Prata/PB com famílias agricultoras apoiadas pelo Projeto Algodão no Sertão do Cariri

Diante do exponencial crescimento do consumo de orgânicos no Brasil, Meirelles também afirma duas certezas direcionadas à população que consome esse tipo de produto: “A primeira que está consumindo um produto que privilegia a saúde. Sua, de quem produz e do planeta. A segunda, que está apoiando famílias agricultoras que nem sempre recebem o justo reconhecimento pelo trabalho que desenvolvem. Perceber o impacto do que compramos e apostar em produtos que tenham sido responsáveis do ponto de vista ambiental e social é um dever do consumidor contemporâneo”, explica.

Por fim, o escritor reforça porque é fundamental o acesso a mercados pela agricultura familiar: “É imprescindível que as organizações da agricultura familiar busquem sua independência financeira. No caso dos SPGs, considero fundamental que o serviço da certificação orgânica participativa seja pago pelas famílias, mesmo que o valor, nos momentos iniciais, não cubra todos os custos e algum nível de subsídio seja necessário. Para isso, comercializar toda a produção como orgânica é importante, pois aumenta os ingressos da família e justificam o custo do processo de certificação”, observa.

Conheça os locais de comercialização dos produtos da ECOARARIPE/PE:

  • Armazém da Caatinga

Endereço: Rua Aprígio Duarte, 1916 – Santo Antônio, Juazeiro – BA

Telefone: (74) 99902-0303

  • Centro de Organização dos Produtores Agroecológicos do Araripe (COPAGRO)

Endereço: Avenida Fernando Bezerra, 1010 – Ouricuri (PE)

Telefone: (87) 99133-0996/ (87) 99110-9471

  • Espaço de Comercialização Agroecológica

Endereço: Praça Claudemiro Alves Guimarães – Centro de Santa Cruz (PE)

Telefone: (87) 99635-3072

  • Espaço de Comercialização Agroecológico de Araripina (ECOA)

Endereço: R. Ana Ramos Lacerda, 89 – Centro, Araripina (PE)

Telefone: (87) 3873-1102

Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos – É uma iniciativa coordenada por Diaconia, em parceria estratégica com a Universidade Federal de Sergipe (UFS, Campus Sertão – Nossa Senhora da Glória/SE). O Projeto conta com o apoio financeiro da Laudes Foundation, da Inter-American Foundation (IAF) e do FIDA/AKSAAM/UFV/IPPDS/FUNARBE. O Projeto ainda é parceiro do SENAI Têxtil e Confecção da Paraíba, e com o Projeto + Algodão – FAO/MRE-ABC/Governo do Paraguai/IBA. Para a execução do Projeto nos territórios, a Diaconia estabeleceu parcerias com ONGs locais com experiência em Agroecologia que são responsáveis pelo assessoramento técnico para fortalecer os Organismos Participativos de Avaliação da Conformidade Orgânico (OPACs) e a produção agroecológica. No Sertão do Piauí, a Cáritas Diocesana de São Raimundo Nonato desenvolve as atividades na Serra da Capivara. No Sertão do Cariri, na Paraíba, o trabalho está sendo realizado pela Arribaçã, tendo ainda a parceria com o CEOP – Território do Curimataú/Seridó da Paraíba. No Sertão do Araripe, em Pernambuco, as ONGS CAATINGA e CHAPADA assumiram conjuntamente as ações do Projeto. As atividades no Alto Sertão de Alagoas e no Alto Sertão de Sergipe estão a cargo do Instituto Palmas e do Centro Dom José Brandão de Castro (CDJBC), respectivamente. No Sertão do Pajeú (PE) e no Oeste Potiguar (RN), territórios onde a Diaconia já mantém escritórios e atividades, ela mesma se encarrega da implementação das ações locais do Projeto e parceria com CPT – RN.