Comercialização dos produtos dos consórcios agroecológicos marca o ano de 2022 de famílias agricultoras do Semiárido
Por Acsa Macena
Entre vendas em atacado e varejo dos produtos em transição e com certificação orgânica participativa, são quase R$20.000,00 de ganhos para as organizações de base da agricultura familiar com a agregação de valor
O acesso ao mercado orgânico para os produtos dos consórcios agroecológicos é fundamental para os 7 OPACs/SPGs apoiados pelo Projeto Algodão no Semiárido nordestino. Não apenas produzir com certificação orgânica participativa, mas ter a certeza da venda de suas produções é um desejo compartilhado por agricultores e agricultoras das associações rurais de certificação orgânica participativa, que já contam com a venda garantida do algodão para o comércio justo.
Em 2022, 6 dos 7 SPGs/OPACs comercializaram diversos tipos de produtos dos consórcios agroecológicos, entre os beneficiados do gergelim (tahine, óleo e fracionado), do amendoim (pasta e fracionado cru e torrado), além do feijão, girassol, milho e sementes de plantas de adubação verde, como feijão de porco, feijão guandu, mucuna preta e outros. Essa diversidade de tipos de produtos reflete a eficiência do cultivo consorciado com o algodão, que já tem a venda antecipada e garantida para o comércio justo e mercado orgânico.
Já o início dessa movimentação em prol do acesso ao mercado orgânico para novas cadeias produtivas busca estruturar um alcance de comercialização para além dos espaços das feiras locais, e foi impulsionada neste ano, rendendo R$ 11.766,00 em vendas de atacado e R$ 7.707,00 em varejo. No total, foram R$ 19.473,00 em vendas.
De acordo com o assessor técnico de Diaconia, Hélio Nunes, o primeiro passo dado para esse avanço foi o investimento na capacidade de produção da matéria prima para viabilizar a venda em escala. Além disso, a construção de três Unidades de Beneficiamento de Alimentos (UBA) no Sertão do Apodi-RN, Sertão do Cariri-PB e Sertão do Pajeú-PE, que devem ficar prontas no próximo ano, trará novos caminhos a serem trilhados pelos SPGs/OPACs.
“O grande desafio para o próximo ano continua sendo termos produtos para levar ao mercado e mais ousadia por parte dos OPACs para correr atrás principalmente das empresas que comercializam produtos orgânicos. Já conseguimos acessar alguns locais, mas precisamos atingir o mercado de forma mais contundente, mantendo regularidade na produção e avançando cada vez mais. Outra grande estratégia para o próximo ano é intensificar a participação dos SPGs/OPACs em eventos da agricultura familiar com stands próprios para ampliar a visibilidade dos produtos”, afirma.
Impressões dos territórios sobre a comercialização – O acesso ao mercado orgânico é desafiador e necessário para os diferentes territórios apoiados pelo Projeto. No caso da Associação dos/das Produtores/as Agroecológicos do Semiárido Piauiense (APASPI/PI), já existe a comercialização de hortaliças e frutas dos quintais produtivos através do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) para o Instituto Federal do Piauí (IFPI), além das feiras agroecológicas da região.
Mas o que se busca é ir além. Segundo Jonilson Pereira, agricultor multiplicador e presidente da APASPI/PI, que neste ano começou a comercializar o feijão de porco, feijão fracionado, milho, amendoim e gergelim, essa busca por mercados para as produções da associação de certificação orgânica participativa é fundamental para a expansão da produção agroecológica.
“Conseguimos a venda direta do algodão através de contratos e a produção do ano já está vendida. Como tem outras culturas na plantação consorciada do algodão, como o gergelim, amendoim, feijão de porco, milho, feijão guandu, buscamos mercados para essas. Neste ano, iniciamos a comercialização de parte desses produtos, mas precisamos ir em busca de mercado, com expectativa de uma venda direta para essas outras culturas que a APASPI produz. Não é só plantar, é ter mercado seguro e garantido para produzirmos com a alegria”, afirma.
Desafio semelhante para a Associação de Certificação Orgânica Participativa de Agricultores e Agricultoras do Alto Sertão de Sergipe (ACOPASE), que participou da 1ª FENAFES em Natal-RN e acredita que no próximo ano deve estabelecer parcerias para que a comercialização dos produtos beneficiados do gergelim, cultura em destaque na produção consorciada do território, seja garantida. “A aceitação do gergelim é muito boa para o mercado. A nossa experiência ainda é muito nova, as pessoas têm consumido o tahine e o óleo. Nós precisamos estruturar melhor a nossa produção e buscar mercados”, explica.
Já no Alto Sertão Alagoano, a Associação de Certificação Orgânica Participativa Flor de Caraibeira, que passará pela auditoria do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para credenciamento e obtenção do selo brasileiro orgânico, espera dar início à comercialização de suas produções. “Esperamos que no próximo ano, com a certificação, possamos organizar as famílias, aumentar a produção, principalmente em áreas irrigadas. Buscar a comercialização no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), grandes mercados, até pensar no comércio externo para gergelim”, afirma Rosana Pereira, agricultora e presidente da Flor de Caraibeira-AL.
No Sertão do Pajeú-PE, a comercialização do gergelim fracionado teve boa aceitação na feira agroecológica do Assentamento Jacu, município de Sertânia-PE. Com a UBA em reforma, a Associação Agroecológica do Pajeú (ASAP-PE), que em novembro de 2022 também passou por auditoria do MAPA para credenciamento, espera agregar valor às produções. “Se tivermos outros produtos, a gente vende sim. E com a nossa UBA iremos agregar valor aos outros produtos. Já fomos procurados por supermercados e restaurantes que vendem alimentos orgânicos, imagina quando a UBA estiver pronta? Isso já está sendo um impacto muito grande para ASAP-PE, porque estamos vendo que temos a garantia de continuarmos na agricultura”, afirma Joana Darck, agricultora multiplicadora e presidente da ASAP-PE.
Conquistas e experiências para além de feiras – A realidade da comercialização nos sete territórios apoiados pelo projeto não segue uma regra. Com venda fixa em três espaços de comercialização nos municípios de Santa Cruz-PE, Ouricuri-PE e Araripina-PE, em setembro deste ano, a Associação de Agricultoras e Agricultores Agroecológicos do Araripe (ECOARARIPE) deu um passo a mais. Os produtos com certificação orgânica participativa como feijão ensacado, óleo de gergelim, tahine, pasta de amendoim e outros passaram a ser comercializados pela Central de Comercialização das Cooperativas da Caatinga (Armazém da Caatinga), localizada em Juazeiro-BA.
Segundo a presidente da ECOARARIPE/PE, Sertão do Araripe – PE, Adeilma Silva, apesar de tamanha conquista, a expectativa é de ainda buscar mais espaços que abarquem as contribuições da agricultura familiar no fornecimento de alimentos saudáveis, assim como de mitigação das mudanças climáticas a partir de práticas sustentáveis que são consideradas no cultivo.
“A ECOARARIPE/PE teve mais um avanço na comercialização dos outros produtos do roçado, com agregação de valor e assim garantindo mais renda e fortalecendo cada vez mais as famílias. Foi uma experiência maravilhosa ver os nossos produtos destacados em alguns pontos de comercialização e saber que muitas pessoas estão conhecendo o trabalho da agricultura familiar organizada, sem contar que estamos fornecendo alimentos saudáveis e ao mesmo tempo cuidando do meio ambiente para que possamos produzir cada vez mais e melhor”, afirma.
No Sertão do Apodi-RN, a experiência de avanço dos roçados às prateleiras também foi iniciada. Assim como a ECOARARIPE/PE, a participação da Associação de Certificação Orgânica Participativa do Sertão do Apodi (ACOPASA-RN) na 1ª Feira Nordestina da Agricultura Familiar (FENAFES) rendeu parcerias importantes para a comercialização dos produtos, que agora podem ser encontrados nos municípios de Natal-RN e Apodi-RN.
Para o agricultor e tesoureiro da ACOPASA Antônio Francisco, a expectativa de novas conquistas se soma à futura concretização da Unidade de Beneficiamento de Alimentos (UBA), que será entregue no próximo ano para impulsionar a produção de alimentos com certificação orgânica participativa no território.
“A comercialização era um sonho da ACOPASA-RN de levar seus produtos direto para a prateleira e neste ano, tivemos essa experiência na 1ª FENAFES. Foi um resultado muito positivo em ver a boa aceitação do nosso produto no mercado. Agora em 2023, temos a expectativa de produzir e beneficiar nossos produtos e levá-los até ao mercado. Para nós é novo, mas nos motiva a produzir e buscar o mercado garantido”.
Já no Sertão do Cariri-PB, com a UBA em reforma e os equipamentos em fase de compra, a ideia é que no local sejam beneficiados os produtos do gergelim e amendoim para a produção de pastas e óleos, assim como empacotar grãos, seguindo o conjunto de orientações do Programa Alimento Seguro (PAS), que tem abrangência nacional e busca garantir as técnicas sobre Segurança de Alimentos e a implantação das Boas Práticas e do Sistema APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle) nos estabelecimentos que produzem alimentos, através da parceria com o SENAI-PB.
“Tem pessoas que já comercializam algumas produções em feiras e projetos como o PNAE. Conseguir entrar no mercado com outras culturas fortalecerá tanto o OPAC quanto os agricultores e agricultoras que fazem parte dele. Temos uma expectativa muito grande quanto a isso, pois tem alguns produtos que nas feiras o preço é lá embaixo. Mas no mercado orgânico, sabemos que teremos mais possibilidades até mesmo para grãos que temos mais dificuldades de comercializar”, afirma Amanda Procópio, agricultora e presidente da Associação Agroecológica de Certificação Participativa do Cariri Paraibano – ACEPAC.
Conheça alguns locais de comercialização dos produtos dos SPGs/OPACs:
📍Espaço de Comercialização Agroecológica
Endereço: Praça Claudemiro Alves Guimarães – Centro de Santa Cruz (PE)
Telefone: (87) 99635-3072
📍Espaço de Comercialização Agroecológico de Araripina (ECOA)
Endereço: R. Ana Ramos Lacerda, 89 – Centro, Araripina (PE)
Telefone: (87) 3873-1102
📍Centro de Organização dos Produtores Agroecológicos do Araripe (COPAGRO)
Endereço: Avenida Fernando Bezerra, 1010 – Ouricuri (PE)
Telefone: (87) 99133-0996/ (87) 99110-9471
📍Budega Apodi
Endereço: Rua Sebastião Sizenando, 263 – Apodi (RN)
Telefone: (84) 99232-9381
📍CECAFES – Central de Comercialização da Agricultura Familiar e Economia Solidária
Endereço: R. Jaguarari, 2454 – Natal (RN)
Telefone: (84) 99868-4422
Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos – É uma iniciativa coordenada por Diaconia, em parceria estratégica com a Universidade Federal de Sergipe (UFS, Campus Sertão – Nossa Senhora da Glória/SE). O Projeto conta com o apoio financeiro da Laudes Foundation, da Inter-American Foundation (IAF) e do FIDA/AKSAAM/UFV/IPPDS/FUNARBE. O Projeto ainda é parceiro do SENAI Têxtil e Confecção da Paraíba, e com o Projeto + Algodão – FAO/MRE-ABC/Governo do Paraguai/IBA. Para a execução do Projeto nos territórios, a Diaconia estabeleceu parcerias com ONGs locais com experiência em Agroecologia que são responsáveis pelo assessoramento técnico para fortalecer os Organismos Participativos de Avaliação da Conformidade Orgânico (OPACs) e a produção agroecológica. No Sertão do Piauí, a Cáritas Diocesana de São Raimundo Nonato desenvolve as atividades na Serra da Capivara. No Sertão do Cariri, na Paraíba, o trabalho está sendo realizado pela Arribaçã, tendo ainda a parceria com o CEOP – Território do Curimataú/Seridó da Paraíba. No Sertão do Araripe, em Pernambuco, as ONGS CAATINGA e CHAPADA assumiram conjuntamente as ações do Projeto. As atividades no Alto Sertão de Alagoas e no Alto Sertão de Sergipe estão a cargo do Instituto Palmas e do Centro Dom José Brandão de Castro (CDJBC), respectivamente. No Sertão do Pajeú (PE) e no Oeste Potiguar (RN), territórios onde a Diaconia já mantém escritórios e atividades, ela mesma se encarrega da implementação das ações locais do Projeto e parceria com CPT – RN.
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