Criação de campo de irrigação sustentável garante eficiência na produção de sementes com certificação orgânica participativa no sertão do Araripe pernambucano
O modelo implementado tem assegurado a estabilidade da produção de sementes crioulas para distribuição nos sete territórios contemplados pelo projeto Algodão no semiárido nordestino

“A gente trabalhava contando só com as chuvas, tinha vez que a gente não colhia porque faltava chuva”. Esse é o relato do agricultor Francisco de Assis antes da implementação do sistema de irrigação por gotejamento na Unidade de Aprendizagem e Pesquisa Participativa (UAP) do assentamento Laranjeiras, município de Parnamirim, localizado no Sertão do Araripe pernambucano. Agora, a realidade é animadora não só para ele, mas para as 289 famílias agricultoras atendidas pelo Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos, coordenado por Diaconia, em parceria com as ONGS Chapada e Caatinga.
“A roça está verde por causa desse sistema de irrigação, porque se não fosse, ela tinha morrido de sede porque nós não tínhamos o que fazer. Graças a Deus a gente realizou um sonho e estamos muito satisfeitos”, comemora seu Chico.
A iniciativa do fornecimento de água tem contribuído para a produção de sementes agroecológicas com certificação orgânica participativa pela Associação de Agricultores e Agricultoras do Território do Araripe (Ecoararipe/PE). A associação é um organismo de avaliação da conformidade orgânica (OPAC) que averigua a qualidade orgânica nas unidades familiares produtivas para geração do selo brasileiro orgânico, a partir do credenciamento do Ministério da Agricultura Abastecimento e Pecuária (MAPA).
“É uma área estratégica devido a produção de sementes para toda a região do semiárido brasileiro onde o projeto apoia em sete territórios e seis estados, e aqui é uma área onde a Ecoararipe recebeu o financiamento do Fundo de Investimento Produtivo Ambiental, o FIPA. Então foi implantado um sistema de irrigação a partir de um poço existente de uma vazão em torno de 2.800 litros por hora e com a ficha de um poço com o nível estático de 12 metros e nível dinâmico de 38 metros”, explica a o coordenador do Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos da Diaconia, Fábio Santiago.
Sendo assim, o sistema de irrigação aprimorou a produção de sementes crioulas paras os consórcios existentes no território, chegando a alcançar até outros OPACs integrantes do projeto. “O objetivo é que a gente tenha essas sementes disponíveis para que sejam utilizadas na ampliação e qualidade, e temos aqui a produção de sementes que visam a recuperação de solos, como o feijão de porco e o feijão guandu”, afirma Helio Nunes, engenheiro agrônomo de Diaconia.
Nesse sentido, a expectativa é que a diversidade de cultivos alavancada pelo campo de irrigação fortaleça a qualidade dos alimentos produzidos através da agricultura familiar. “Os produtos resultantes desse campo poderá gerar uma referência para novas cadeias produtivas serem incrementadas, fazendo com que esse movimento no semiárido brasileiro possa manter, expandir e incluir novas famílias agricultoras de modo a fortalecer essa organização social e contribuir com o meio ambiente, haja vista que não há aplicação de nenhum produto químico sintético, nem de agrotóxicos altamente prejudiciais ao meio ambiente”, assegura Santiago.
Para entender melhor sobre como funciona o campo de irrigação por gotejamento e quais são suas principais contribuições no alto sertão do Araripe, assista ao vídeo completo no nosso canal do Youtube (https://www.youtube.com/watch?v=Qgz05D6jS-s&t=1s).
Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos – É uma iniciativa coordenada por Diaconia, em parceria estratégica com a Universidade Federal de Sergipe (UFS, Campus Sertão – Nossa Senhora da Glória/SE). O Projeto conta com o apoio financeiro da Laudes Foundation, da Inter-American Foundation (IAF) e do FIDA/AKSAAM/UFV/IPPDS/FUNARBE. O Projeto ainda é parceiro com o Projeto + Algodão – FAO/MRE-ABC/Governo do Paraguai/IBA. Para a execução do Projeto nos territórios, a Diaconia estabeleceu parcerias com ONGs locais com experiência em Agroecologia que serão responsáveis pelo assessoramento técnico para fortalecer os Organismos Participativos de Avaliação da Conformidade Orgânico (OPACs) e a produção agroecológica. No Sertão do Piauí, a Cáritas Diocesana de São Raimundo Nonato desenvolve as atividades na Serra da Capivara. No Sertão do Cariri, na Paraíba, o trabalho está sendo realizado pela Arribaçã, tendo ainda a parceria com o CEOP – Território do Curimataú/Seridó da Paraíba. No Sertão do Araripe, em Pernambuco, as ONGS CAATINGA e Chapada assumiram conjuntamente as ações do Projeto. As atividades no Alto Sertão de Alagoas e no Alto Sertão de Sergipe estão a cargo do Instituto Palmas e do Centro Dom José Brandão de Castro (CDJBC), respectivamente. No Sertão do Pajeú (PE) e no Oeste Potiguar (RN), territórios onde a Diaconia já mantém escritórios e atividades, ela mesma se encarrega da implementação das ações locais do Projeto e parceria com CPT – RN.
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