Laudo técnico elaborado pelo SENAI-PB revela a qualidade da fibra do algodão produzida por famílias agricultoras da Associação Agroecológica de Certificação Orgânica Participativa do Cariri Paraibano – ACEPAC
Por Acsa Macena
Há dois anos, a fiação do algodão produzido pela ACEPAC/PB tem aumentado a renda de famílias agricultoras no Sertão do Cariri, uma vez que o valor de comercialização do fio é mais vantajoso do que o da pluma
Plantar, colher, descaroçar, enfardar, rastrear e fiar. No Sertão do Cariri-PB, o avanço da cadeia de valor da pluma do algodão produzida pela Associação Agroecológica de Certificação Participativa do Cariri Paraibano – ACEPAC/PB, tem revelado a apropriação de conhecimentos pela agricultura familiar sobre o conjunto de boas práticas para o cultivo, colheita e pós-colheita do algodão consorciado no Semiárido do Nordeste brasileiro.
O resultado disso reflete na eficiência da fiação de 24.471 kg de pluma, finalizada em abril de 2023 em parceria com Instituto SENAI de Tecnologia Têxtil e Confecção- João Pessoa-PB. Com experiência de fiação desde o final da década de 70 em diferentes países da América, Europa e Ásia, o gerente do Instituto, José Edilson Andrade, elaborou um laudo técnico sobre a qualidade da pluma recebida para a fiação e observa que se mostrou dentro dos parâmetros nacionais de qualidade da fibra.
“As características das fibras que recebemos da ACEPAC-PB apresentam fiabilidade para se produzir até o fio 30/1. Então o valor de comprimento é muito bom, o algodão tem boa conformidade, o tipo também é muito bom que é o algodão limpo e isento de contaminação, pois não vimos defeito de colheita e beneficiamento. A essência da fibra e o comprimento estão dentro dos parâmetros nacionais”, afirma.
O laudo técnico também mostra que a quantidade de resíduos de folhas na fibra até a fiação está classificada no maior grau de pureza, tipo universal caixa padrão 2, numa escala de 1 a 7. Já o grau de maturidade da pluma do algodão deve acontecer no campo, não se devendo colher logo com a abertura do capulho, mas com no mínimo 50% dos capulhos abertos. Foi observado que a maturidade da pluma da ACEPAC-PB atingiu mais de 85%.
De acordo com o assessor da Arribação, que é a ONG parceira de Diaconia no acompanhamento técnico às famílias da ACEPAC-PB, as análises do SENAI – PB esses resultados indicam a importância do trabalho que se faz no campo.
“Com as análises da fiação, ficou comprovada a importância de colher o algodão com maturidade certa e amadurecimento da fibra e evitando a alta umidade do capulho. Nosso papel junto às parcerias e agricultoras e agricultores é de montar os conteúdos pedagógicas e falar da importância de se fazer o processo de plantio, colheita, pós-colheita na época certa, porque isso influencia no processo final da fiação, maior rendimento e qualidade do fio, agregando valor e levando renda para o campo”.
Fortalecimento da Autonomia Financeira – Os impactos financeiros e o retorno disso são sentidos não só para as famílias associadas à ACEPAC-PB. Segundo a agricultora e presidente do SPG/OPAC, Amanda Procópio, os ganhos também trazem retorno para o fortalecimento da organização. “Com a fiação, além de estar agregando valor para o agricultor e a agricultora que vai receber mais pelo seu produto, ela também está fortalecendo o Fundo de Incentivo à Autonomia Financeira (FIAF) da ACEPAC-PB, que será usado para a formação, manutenção da ACEPAC-PB, e ainda abre mais portas para que a gente possa ir atrás de mais agricultores e agricultoras para fazer parte desse processo”.
Só para se ter uma ideia, com a venda da pluma, o valor acumulado para o FIAF seria de R$11.210,17. Agora, com a fiação, o valor mais que dobrou, totalizando em R$24.051,27 para ampliar as atividades da ACEPAC-PB no giro do SPG. Considerando todos esses ganhos, o coordenador do Projeto Algodão/Diaconia Fábio Santiago, detalha o caminho que foi trilhado com as parcerias no âmbito da autonomia do conhecimento para a agricultura familiar, além da criação da metodologia de campo para que as famílias agricultoras pudessem ter o algodão consorciado e de pós-colheita com boas práticas.
“É a partir da experimentação desses resultados da qualidade da pluma construídos ao longo de 5 anos que foi possível se aproximar do Senai Têxtil de João Pessoa. Essa aliança é uma referência hoje para a sociedade porque é uma organização de base da agricultura familiar que entra no mercado formal onde é possível comercializar para a empresa com fio de qualidade. Esse fio abre portas para novos ganhos, incremento de renda e valor agregado para os agricultores e agricultoras”, afirma.
Este é o segundo ano consecutivo que uma organização de base da agricultura familiar do Sertão do Cariri-PB realiza a fiação da pluma do algodão em negociação direta com o setor da indústria e o comércio justo (Vert/Veja). Para a supervisora do Instituto SENAI de Tecnologia Têxtil e Confecção Senai João Pessoa – PB, Mayne Ramos, que acompanhou as primeiras aproximações da ACEPAC-PB ao SENAI, a expectativa é de continuar contribuindo para fortalecer esse movimento.
“Ficamos felizes por essa participação. Vê a questão tecnológica que a gente hoje traz uma análise da fibra, uma análise do fio. A gente sabe e tem certeza do processo da qualidade do que estamos entregando e do que estamos contribuindo. Esperamos que isso se prolongue cada vez mais forte, estruturado e trazendo o melhor para a sociedade”, afirma.
A qualidade da fibra do algodão também reflete na qualidade dos produtos que serão comercializados, a exemplo da fabricação de tecidos e posteriormente na produção nos tênis da VEJA/VERT, uma das empresas compradoras do algodão produzido pela ACEPAC-PB, além de apoiadora do Projeto. De acordo com o engenheiro Têxtil da marca franco-brasileira, Edenilso Stela, a produção dos fios apresenta novas perspectivas de acesso ao mercado orgânico e comércio justo às famílias agricultoras do Sertão do Cariri-PB.
“Nesse modelo de comercialização, os agricultores e agricultoras conseguem obter um valor mais justo na venda antecipada do algodão e a indústria recebe um produto de qualidade, que garante a continuidade do trabalho de todos e todas; proporcionando para os agricultores e agricultoras confiabilidade, segurança e garantia agregando mais valores para sua produção. Este protagonismo local somado ao trabalho em parceria com diversas organizações, resultando na valorização das famílias agricultoras e fortalecimento da cadeia produtiva do algodão agroecológico faz parte da nossa essência e da história dos nossos tênis”, explica.
Assista a entrevista completa sobre a análise da fibra do algodão da ACEPAC-PB, com o e gerente do Instituto SENAI de Tecnologia Têxtil e Confecção- João Pessoa-PB Edilson Andrade. Ele é graduado em Engenharia Têxtil pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN e tem pós-graduação em Engenharia de Produção pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB.
Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos – É uma iniciativa coordenada pela Diaconia e tem apoio financeiro da Laudes Foundation através do IDH – Sustainble Trade Initiative, da Inter-American Foundation (IAF), da V. Fair Trade e o Instituto Lojas Renner. No incentivo à gestão e disseminação do conhecimento, o Projeto é parceiro estratégico do FIDA/AKSAAM/UFV/IPPDS/FUNARBE e da Universidade Federal de Sergipe (UFS, Campus Sertão – Nossa Senhora da Glória/SE). Ainda é parceiro do SENAI Têxtil e Confecção da Paraíba, Projeto + Algodão – FAO/MRE-ABC/IBA/Governo do Paraguai, Programa Mundial de Alimentos (PMA) e o Projeto Algodão Agroecológico Potiguar no Rio Grande do Norte. A área de atuação é em 7 territórios e 6 estados na região semiárida do Nordeste do Brasil. Há colaboração com ONGs locais (Instituto Palmas – Alto Sertão de Alagoas, ONG Chapada – Sertão do Araripe/PE e Cáritas Diocesana de São Raimundo Nonato – Sertão do Piauí) para a expansão do cultivo do algodão consorciado e fortalecimento dos Organismos Participativos de Avaliação da Conformidade (OPACs) – Associações Rurais de Certificação Orgânica Participativa. No Sertão do Cariri, na Paraíba, o assessoramento técnico está sendo realizado pela Arribaçã, tendo ainda a parceria com o CEOP – Território do Curimataú/Seridó. No Sertão do Pajeú (PE) e Sertão do Apodi (RN), a Diaconia mantém escritórios e atividades e se encarrega da implementação das ações locais do Projeto e parceria com CPT – RN.