Produção de algodão de base agroecológica ganha reforço no Nordeste
Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos foi lançado em São Raimundo Nonato, na Serra da Capivara, Piauí
De São Raimundo Nonato (PI)

A agricultora Maria Nazaré Alves e seu marido, Luiz Gonzaga Pereira, não veem a hora de voltar a produzir algodão na sua propriedade localizada no município de Sumé, Sertão do Cariri Paraibano. Nos últimos quatro anos, o casal interrompeu o plantio do algodão por conta das secas prolongadas e se dedicou ao milho, batata doce, feijão, amendoim e gergelim, tudo com base na Agroecologia. Mas a partir de hoje, o casal comemora o fortalecimento da retomada do plantio do algodão não apenas na Paraíba, mas em outros estados do Nordeste, graças ao projeto ‘Algodão em Consórcios Agroecológicos’, uma realização da ONG Diaconia com o apoio do Instituto C&A e parceria com a Embrapa Algodão, Universidade Federal de Sergipe, além de organizações não governamentais e Organismos Participativos de Avaliação da Conformidade (OPACs) de sete territórios da região Nordeste. O projeto foi lançado na manhã desta terça-feira (06), na sede da Cáritas Diocesana do município de São Raimundo Nonato, na Serra da Capivara (PI), e pretende, apenas no primeiro ano de execução, colher mais de 100 toneladas de pluma produzidas em todos os territórios.

“Nossa terra já está pronta, cortadinha, só aguardando as sementes do algodão para brotar nosso ouro branco. Estamos muito felizes com a volta do plantio do algodão na nossa região. É uma coisa linda de se ver”, disse dona Nazaré. Assim como a família dela, outras 2.000 também serão beneficiadas nos territórios envolvidos no projeto. Durante dois anos de duração, a iniciativa prevê o fortalecimento dos sistemas produtivos familiares — proporcionando a produção de fibra e alimentos -, o protagonismo feminino e a geração de renda para a agricultura familiar na região semiárida brasileira. Além disso, o projeto terá perspectivas de desenvolvimento das organizações sociais de base familiar e aproximação com o mercado de algodão sustentável.

“Espero poder colher cerca de duas toneladas de algodão na minha propriedade de quase dois hectares por meio do incentivo deste projeto. Já cultivei algodão há muitos anos, na época do Projeto Dom Hélder Câmara (PDHC), mas de algum tempo para cá só tenho plantado milho para sobreviver. Graças a esse projeto, eu e mais cinco famílias do Assentamento Santo Antônio iremos colher não só algodão, mas cidadania, empoderamento e uma condição financeira melhor”, disse o agricultor Genildo Antônio Soares, do município Governador Dix Sept Rosado, Oeste Potiguar, RN. Ainda no Rio Grande do Norte, no município de Umarizal, o agricultor Antônio Joílson já colhe sua terceira “apanha” de uma única safra.

O projeto vai acordar a produção do algodão agroecológico dos Sertões do Pajeú e do Araripe (PE), Sertão do Cariri (PB), Serra da Capivara (PI), Sertão do Apodi (RN), Alto Sertão de Alagoas e Alto Sertão de Sergipe, além do Sertão dos Inhamuns/Crateús e Central, no Ceará. Nesses lugares, as famílias agricultoras terão todo o aparato necessário para garantirem uma produção de alta qualidade. A Embrapa Algodão será a responsável pelo aprimoramento dos componentes envolvidos na produção, formação das equipes técnicas, entre outras atividades. A Universidade Federal de Sergipe dará sua contrapartida com os estudos e pesquisas envolvendo o corpo docente e discente. As ONG’s oferecerão os técnicos e técnicas para acompanharem as famílias no assessoramento técnico especializado. “Vamos unir forças para que esse projeto cresça e beneficie cada vez mais pessoas. Decidimos abraçar esta causa, o que nos deixa mais presentes no Nordeste. Sendo assim, estaremos com todos e todas neste projeto para que cresçamos juntos e juntas”, disse o presidente do Conselho Diretor da Diaconia, Pastor Dalcido Gaulke. O coordenador geral do projeto, Fábio Santiago, reforçou o fortalecimento que a iniciativa levará para as organizações da agricultura familiar com relação à sustentabilidade e da aproximação com o mercado da moda. “Nosso objetivo é fortalecer essa produção por meio das organizações e expandir essa produção, gerando um selo de qualidade que seja reconhecido em todo território nacional”.

De acordo com Luciana Pereira, do Instituto C&A, financiador do projeto, o projeto tem por objetivo “promover a transformação da indústria da moda num bem maior. E este projeto se enquadra perfeitamente no nosso programa chamado Algodão Sustentável, cujo objetivo é fortalecer a agricultura familiar por meio da produção do algodão agroecológico e do trabalho com as organizações locais através das parcerias”.
Segue lista das organizações parceiras do Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos:
EMBRAPA Algodão
Universidade Federal de Sergipe — UFS Campus Sertão
Organismos Participativos de Avaliação da Conformidade (OPACs)
APASPI/PI — Associação dos Produtores Agroecológicos do Semiárido Piauiense
ASAP/PE — Associação Agroecológica do Pajeú
ACOPASA/RN — Associação de Certificação Orgânica Participativa do Sertão do Apodi
ECOARARIPE/PE — Associação de Agricultores e Agricultoras Agroecológicos do Araripe
ACEPAC/PB — Associação Agroecológica de Certificação Participativa do Cariri Paraibano
Organizações Não Governamentais (ONGs)
Cáritas Diocesana de São Raimundo Nonato — Piauí
Arribaçã- Paraíba
Caatinga — Pernambuco
Chapada — Pernambuco
Centro Dom José Brandão de Castro- CDJBC — Sergipe
Instituto Palmas — Alagoas
*Tádzio Estevam é Assessor de Comunicação da Diaconia
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