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Projeto Algodão divulga sistematização inédita para auxiliar o uso de tecnologias poupadoras de mão de obra pela agricultura familiar


Por Acsa Macena

Microtrator, plantadeira manual e roçadeira à gasolina são algumas das tecnologias incentivadas pelo Projeto. No total, são três vídeos e uma publicação que reúnem um conjunto de orientações e boas práticas para auxiliar no manuseio correto e eficiente.

Jovem rural Iara Silva da ACOPASE/SE manuseando o microtrator em Lagoa da Volta-SE/ Alto Sertão Sergipano.

A garantia da produtividade nos roçados agroecológicos é crucial para a manutenção da fonte de renda de agricultoras e agricultores dos 7 OPACs/SPGs apoiados pelo Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos no Semiárido nordestino. Nesse sentido, o uso das tecnologias poupadoras de mão de obra tem se apresentado como importante instrumento para autonomia do trabalho no campo, otimização do tempo e despesa  no preparo da terra, além da expansão da produção agroecológica com certificação orgânica participativa, geração do selo brasileiro orgânico nos produtos agrícolas controlados, pelos Sistemas Participativos de Garantia (SPGs) dos Organismos Participativos de Avaliação da Conformidade (OPACs) em Unidades Familiares Produtivas (UFPs) apoiados pelo Projeto em 6 estados e 8 territórios na região semiárida do Nordeste do Brasil.

“A gente fazia serviço braçal e em um dia de serviço tirava meia tarefa de terra. Hoje com a roçadeira, tira uma tarefa despreocupado. Serviço que era feito por duas pessoas, agora fazemos em um dia e resolvemos com menos esforço físico porque o material é leve, de fácil manuseio e de custo barato. Com dois litros de gasolina trabalhamos o dia folgado”, afirma o agricultor Cleonaldo Ferreira, ligado à Associação de Certificação Orgânica Participativa de Agricultores e Agricultoras do Alto Sertão de Sergipe (ACOPASE).

Agricultor Cleonaldo Ferreira, ligado à ACOPASE, durante manuseio da roçadeira em Lagoa da Volta/, Porto da Folha/SE, Alto Sertão Sergipano.

Pensando em sistematizar o passo a passo para o uso correto e eficiente das tecnologias poupadoras de mão de obra, foi elaborado o Procedimento Operacional Padrão (POP) em parceria com a Universidade Federal de Sergipe – Campus do Sertão para instruir sobre o uso do microtrator, plantadeira manual e roçadeira à gasolina.  

“O POP foi construído com base no manual técnico do próprio equipamento e a partir do uso diário da prática de agricultoras e agricultores do Projeto”, explica o professor da UFS – Campus do Sertão – Danilo Santos. Sendo assim, o principal objetivo do material é capacitar famílias agricultoras para enfrentar suas próprias dificuldades e gargalos diagnosticados durante o uso dessas tecnologias.

 Humberto Santos, agricultor multiplicador da ACOPASE-SE e plantadeira em Lagoa da Volta/SE, Porto da Folha/SE, Alto Sertão Sergipano.

Já conforme observa o coordenador do Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos/ Diaconia Fábio Santiago, o uso de tecnologias poupadoras de mão de obra como o microtrator, por exemplo, traz benefícios ambientais e que dialogam com a realidade climática da região.

“No Semiárido brasileiro, uma das práticas fundamentais para o sucesso do algodão em consórcios agroecológicos é o plantio nas primeiras chuvas porque a estação é curta (70 a 80% das chuvas em 4 a 5 meses do ano) e o algodão tem um ciclo final de 150 dias. Então é extremamente importante aproveitar essas primeiras chuvas a partir do uso das tecnologias que realmente deem um condição favorável para fazer o preparo do solo, dialogando com o clima, além de menor impacto sobre o solo. O uso das enxadas rotativas com microtrator não inverte a camada do solo e deixa a matéria orgânica triturada sobre a superfície do solo. Ele também proporciona uma menor pegada de carbono, ou seja, uma menor emissão de gases de efeito estufa, extremamente importante para que possamos contribuir com a mitigação dos gases de efeito estufa que elevam a temperatura do ar ”, explica.

Equipe da UFS, representantes da ACOPASE e Diaconia após gravação dos POPs em Lagoa da Volta-SE, Porto da Folha/SE, Alto Sertão Sergipano.

Além do microtrator que auxilia no preparo da terra, existe um conjunto de outras máquinas que diminuem o trabalho braçal no campo. Entre elas estão as plantadeiras, utilizadas no processo de semeadura; a roçadeira, para o manejo das plantas espontâneas; e as colheitadeiras aspiradoras à gasolina, úteis no processo de colheita.

O material produzido servirá como referência para famílias agricultoras dos demais territórios que compõem o Projeto no Semiárido, principalmente porque contribui para o fortalecimento da autonomia de mulheres agricultoras nas atividades do campo, conforme observa a jovem rural da ACOPASE e estudante de agronomia pela UFS, Iara Silva. “Pude perceber que a agricultora teve uma autonomia porque antes precisávamos de trator e o custo era bem mais alto. E hoje em dia, a gente mesmo pode fazer o trabalho, tanto eu como filha de agricultora quanto minha mãe, e isso em qualquer hora. Não ficamos dependentes de terceiros”, afirma.

Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos – É uma iniciativa coordenada por Diaconia, em parceria estratégica com a Universidade Federal de Sergipe (UFS, Campus Sertão – Nossa Senhora da Glória/SE). O Projeto conta com o apoio financeiro da Laudes Foundation em parceria com o IDH – Sustainble Trade Initiative, da Inter-American Foundation (IAF), do FIDA/AKSAAM/UFV/IPPDS/FUNARBE, da V. Fair Trade e o Instituto Lojas Renner (IR). O Projeto ainda é parceiro do SENAI Têxtil e Confecção da Paraíba, e com o Projeto + Algodão – FAO/MRE-ABC/Governo do Paraguai/IBA. Para a execução do Projeto nos territórios, a Diaconia estabeleceu parcerias com ONGs locais com experiência em Agroecologia que são responsáveis pelo assessoramento técnico para fortalecer os Organismos Participativos de Avaliação da Conformidade Orgânico (OPACs) e a produção agroecológica. No Sertão do Piauí, a Cáritas Diocesana de São Raimundo Nonato desenvolve as atividades na Serra da Capivara. No Sertão do Cariri, na Paraíba, o trabalho está sendo realizado pela Arribaçã, tendo ainda a parceria com o CEOP – Território do Curimataú/Seridó da Paraíba. No Sertão do Araripe, em Pernambuco, as ONGS CAATINGA e CHAPADA assumiram conjuntamente as ações do Projeto. As atividades no Alto Sertão de Alagoas e no Alto Sertão de Sergipe estão a cargo do Instituto Palmas e do Centro Dom José Brandão de Castro (CDJBC), respectivamente. No Sertão do Pajeú (PE) e no Oeste Potiguar (RN), territórios onde a Diaconia já mantém escritórios e atividades, ela mesma se encarrega da implementação das ações locais do Projeto e parceria com CPT – RN.