Projeto conclui sistematização inédita para auxiliar a agricultura familiar no uso das tecnologias poupadoras de mão de obra
Por Acsa Macena
O e-book reúne todas as etapas para o uso correto e eficiente do microtrator, plantadeira manual e roçadeira à gasolina. O material foi validado tanto no campo científico quanto na experimentação com os agricultores e agricultoras que integram a iniciativa.

Descentralizar o conhecimento e proporcionar a autonomia para a agricultura familiar sobre as diferentes etapas que envolvem o cultivo do algodão em consórcios agroecológicos com certificação orgânica participativa. A publicação “Procedimentos Operacionais Padronizados (POPs) em tecnologias poupadoras de mão de obra” reúne o passo a passo para a utilização de três tecnologias poupadoras de mão de obra que vem sendo experimentadas por sete organizações de base da agricultura familiar acompanhadas pelo Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos, coordenado pela ONG Diaconia, no Semiárido do Nordeste do Brasil.
A sistematização é uma das 55 produções no âmbito da gestão e disseminação do conhecimento que vem sendo gerada há 5 anos pelo Projeto/Diaconia, e em parceria com as organizações de base da agricultura familiar, assessoria técnica, setor acadêmico, organizações não-governamentais e outros.
A elaboração foi realizada em parceria com a Universidade Federal de Sergipe – Campus do Sertão/ Nossa Senhora da Glória. O objetivo é que a agricultura familiar possa conduzir as tecnologias poupadoras de mão de obra com autonomia para melhor produtividade e eficiência nas diferentes etapas que envolvem o cultivo do algodão em consórcios agroecológicos, principalmente nas primeiras chuvas da estação.
De acordo com Fábio Santiago, coordenador do Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos/Diaconia, o documento é uma tentativa de avançar no conjunto de boas práticas e orientações para o uso das tecnologias poupadoras de mão de obra em nível de agricultura familiar e na região semiárida do Nordeste do Brasil.
“A ideia é cada vez mais alargar o conhecimento pelas famílias agricultoras das associações rurais de certificação orgânica participativa apoiadas pelo Projeto, que busquem apoiar a autonomia no preparo da terra, principalmente, no plantio nas primeiras chuvas e limpas para que em conjunto com outras práticas possam alavancar a produtividade nos consórcios agroecológicos. Por outro lado, uma estratégia de buscar oportunidade de incrementar com financiadores o acesso de mais tecnologias para as famílias agricultoras apoiadas pelo Projeto”, explica.


A sistematização sobre o uso da plantadeira, microtrator e roçadeira está dividida em 1) condições para uso; 2) material necessário; 3) procedimentos antes do funcionamento; 4) procedimentos para partida e funcionamento; 5) procedimentos após a utilização e 6) observações importantes.
No total, foram produzidos três vídeos, já disponíveis no Youtube do Projeto (https://www.youtube.com/@projetoalgodaoemconsorcios/videos), e um e-book, que pode ser acessado gratuitamente na biblioteca do site (https://www.algodaoagroecologico.com/wp-content/uploads/2023/08/pops-tecnologias-poupadoras-de-mao-de-obra_isbn.pdf) .
Ambos reúnem o conjunto de orientações e boas práticas e que contribuirão para otimizar o tempo e reduzir despesas, gerar autonomia para o plantio nas primeiras chuvas, diminuir o impacto sobre o solo e expandir a produção do algodão e de culturas alimentares e forrageiras.


Segundo o professor Maycon Reis, coordenador do Projeto pela UFS/Campus do Sertão – Nossa Senhora da Glória/SE, também um dos autores da publicação, o impacto do documento é muito positivo pois mostra que é possível ter uma interação entre o segmento público, representado pela universidade federal, uma organização de base da agricultura familiar, que é a Associação de Certificação Orgânica Participativa de Agricultores e Agricultoras do Alto Sertão de Sergipe (ACOPASE) e a Diaconia.
“Conseguimos de forma eficiente e participativa contribuir com um material que pode ser replicado para todos os territórios do Projeto e para a agricultura familiar de forma geral. Através desse material mostramos que a pesquisa de campo e a interação considera as necessidades dos/as agricultores/as e a capacidade de executar determinadas operações com as tecnologias. Isso fez com que nós conseguíssemos colocar no papel algo que é facilmente exequível”, explica.


“Conseguimos de forma eficiente e participativa contribuir com um material que pode ser replicado para todos os territórios do Projeto e para a agricultura familiar de forma geral. Através desse material mostramos que a pesquisa de campo e a interação considera as necessidades dos/as agricultores/as e a capacidade de executar determinadas operações com as tecnologias. Isso fez com que nós conseguíssemos colocar no papel algo que é facilmente exequível”, explica.
De acordo com a agricultora multiplicadora Maria Dilvânia, ligada à Associação de Certificação Orgânica Participativa do Sertão do Apodi – ACOPASA/RN, uma das 7 organizações de base da agricultura familiar acompanhadas pelo Projeto no Semiárido, o uso da plantadeira contribuiu para reduzir o tempo do plantio. “Levei 32 minutos para plantar manualmente com a enxada. Já com a plantadeira, eu gastei apenas 7 minutos. É uma diferença bem boa, né? Essa plantadeira é poupadora de mão de obra mesmo”, afirma.

Já de acordo com a agricultora Iara Silva, ligada à ACOPASE/SE, a principal contribuição do uso do microtrator é a independência para o preparo da terra nas primeiras chuvas. “Pude perceber que a agricultora teve uma autonomia porque antes precisávamos de trator e o custo era bem mais alto e hoje em dia, a gente mesmo pode fazer o trabalho, tanto eu como filha de agricultora quanto minha mãe, e isso em qualquer hora. Não ficamos dependentes de terceiros”, afirma.

O Projeto já alcançou mais de 1.400 famílias agricultoras nos 7 territórios – Alto Sertão Sergipano (SE), Alto Sertão Alagoano (AL), Serra da Capivara (PI), Sertão do Pajeú (PE), Sertão do Araripe (PE), Sertão do Cariri (PB), Sertão do Apodi (RN) – e 6 estados na região semiárida do Nordeste do Brasil.
Atualmente, apoia o funcionamento 7 Sistemas Participativos de Garantia (SPGs) que controlam a qualidade orgânica em Unidades Familiares Produtivas (UFPs) através dos Organismos Participativos de Avaliação da Conformidade (OPACs), conferindo o selo brasileiro orgânico nas produções agrícolas. São eles: ACOPASA-RN, ACOPASE-SE, Flor de Caraibeira-AL, ECOARARIPE-PE, ACEPAC-PB, ASAP-PE e APASPI-PI.
Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos – É uma iniciativa coordenada pela Diaconia e tem apoio financeiro da Laudes Foundation através do IDH – Sustainble Trade Initiative, da Inter-American Foundation (IAF), da V. Fair Trade e o Instituto Lojas Renner. No incentivo à gestão e disseminação do conhecimento, o Projeto é parceiro estratégico do FIDA/AKSAAM/UFV/IPPDS/FUNARBE e da Universidade Federal de Sergipe (UFS, Campus Sertão – Nossa Senhora da Glória/SE). Ainda é parceiro do SENAI Têxtil e Confecção da Paraíba, Projeto + Algodão – FAO/MRE-ABC/IBA/Governo do Paraguai, Programa Mundial de Alimentos (PMA) e o Projeto Algodão Agroecológico Potiguar no Rio Grande do Norte. A área de atuação é em 7 territórios e 6 estados na região semiárida do Nordeste do Brasil. Há colaboração com ONGs locais (Instituto Palmas – Alto Sertão de Alagoas, ONG Chapada – Sertão do Araripe/PE e Cáritas Diocesana de São Raimundo Nonato – Sertão do Piauí) para a expansão do cultivo do algodão consorciado e fortalecimento dos Organismos Participativos de Avaliação da Conformidade (OPACs) – Associações Rurais de Certificação Orgânica Participativa. No Sertão do Cariri, na Paraíba, o assessoramento técnico está sendo realizado pela Arribaçã, tendo ainda a parceria com o CEOP – Território do Curimataú/Seridó. No Sertão do Pajeú (PE) e Sertão do Apodi (RN), a Diaconia mantém escritórios e atividades e se encarrega da implementação das ações locais do Projeto e parceria com CPT – RN.
Pena! Não termos como adquirir , pouparia, recursos, tempo, maior e melhor produtividade, como ajudaria, estimulando mais agricultores ingressarem no projeto, gerando renda para suas famílias, progresso para o município, reforço e apoio ao homem do campo.