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Sergipe comemora primeira safra de algodão agroecológico do estado


Em apenas um ano, a colheita contabilizou mais de seis toneladas de algodão em rama, quatro toneladas de milho, 1,5 de feijão e gergelim no território

Agricultores e agricultoras comemoram a primeira safra de algodão agroecológico do estado. Fotos: Acervo Projeto Algodão

O Semiárido Sergipano está em festa. O algodão voltou a brotar e resgatar uma cultura adormecida há mais de 30 anos no território. A celebração deste acontecimento inédito reuniu as famílias agricultoras na última terça-feira (10) durante a primeira Festa da Colheita do Alto Sertão Sergipano. Em apenas um ano, a colheita contabilizou mais de seis toneladas de algodão em rama, quatro toneladas de milho, 1,5 de feijão e gergelim no território. A celebração reuniu as famílias agricultoras que compõem o projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos para celebrar a agrobiodiversidade local. O encontro aconteceu na comunidade Esperança, município de Porto da Folha, sertão do estado, e contou com as presenças de representantes do governo estadual, legislativo municipal, Embrapa Algodão, Universidade Federal de Sergipe, Diaconia, Centro Dom José Brandão de Castro (CDJBC) – parceiro local do projeto responsável pela assessoria técnica -, Cooperaterra – responsável pela comercialização do algodão no território -, movimentos sociais (MST e MPA), além de representantes dos agricultores e agricultoras.

Reunião para a consolidação das famílias para aprovação no SPG

Durante a manhã, os agricultores e agricultoras participaram de uma reunião com a técnica local do projeto, Bayne Ribeiro (CDJBC), para consolidar a lista dos agricultores e agricultoras que estão em transição agroecológica para serem aprovados e aprovadas no Sistema Participativo de Garantia (SPG) mediante a legislação brasileira.

A programação da tarde começou com as falas dos representantes de diversas organizações e movimentos que prestigiaram a celebração. O coordenador do projeto pela Diaconia, Fábio Santiago, fez um resgate histórico do algodão na região e ressaltou a importância da retomada e, principalmente, da primeira safra colhida em um ano de execução do projeto. “Na década de 80 houve um desaparecimento de todo o algodão no Semiárido nordestino por diversas razões. Após uma década e meia sem plantio, pequenos agricultores familiares do Ceará se reuniram para retomar a cultura, só que numa nova proposta, em bases agroecológicas, visando o empoderamento das famílias e o acesso ao mercado justo. E em 1998 houve a primeira safra desse algodão, aproximando empresas aos agricultores e agricultoras”.

Ainda no viés histórico, Fábio acrescentou. “Hoje é um momento histórico para essas pessoas que estão sendo pioneiras no resgate do algodão agroecológico no Alto Sertão Sergipano. O estado já demonstrava potencial no modelo de produção agroecológica, mesmo sem ser com o algodão. Por isso brigamos para incluir Sergipe nesse projeto para que seja mais um estado nordestino a nos ajudar a pintar novamente o Semiárido de algodão, como foi antes da década de 80. Hoje o mercado procura e valoriza mais o algodão sustentável, ou seja, o que estamos plantando e colhendo aqui na região. Esse dia será marcado na vida dessas famílias e servirá de referência para as novas que deverão entrar no fortalecimento do movimento de expansão do algodão agroecológico no estado de Sergipe”.

Fábio também falou das possíveis parcerias com outros agentes, inclusive, com o governo do estado. O secretário estadual de Agricultora, André Bonfim, assegurou. “O Governo de Sergipe vê com excelentes olhos esse projeto, tanto que convidamos a Diaconia para fechar uma proposta de ampliação do projeto do algodão por meio do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) que já atua em 15 municípios aqui de Sergipe. Nossa contrapartida deverá ser na ordem de R$ 400 mil para potencializar a produção consorciada nesta região visando a aquisição da primeira máquina descaroçadeira móvel de algodão, bem como tecnologias poupadoras de mão de obra (plantadeiras, colheitadeiras e roçadeiras)”, disse.

Elielma é representante do Movimento dos Pequenos Agricultores de Sergipe

Elielma Vasconcelos, do Movimento dos Pequenos Agricultores do Alto Sertão Sergipano, destacou a participação das organizações para o sucesso do projeto. “Esse projeto é muito simbólico para nós dos movimentos sociais porque foi construído por organizações que fazem a história do alto sertão. As instituições de pesquisas também têm colaborado muito nesse processo. E o resultado disso é o que estamos vendo aqui. Todos e todas estão de parabéns”.

Placas de homenagens pela produção foram entregues

Seguindo a programação, a coordenação do projeto entregou certificados às pessoas que participaram dos módulos de formação e também placas em homenagem aos que mais se destacaram na produção consorciada agroecológica. O agricultor Humberto Vieira dos Santos, presidente da Cooperaterra, chegou a colher quase 600 quilos de algodão. “Esse não é um momento só meu. É de todo mundo aqui”. Em seguida, a agricultora Sônia Maria da Silva também foi agraciada pelo seu desempenho na primeira safra e representou o público feminino dentro do recorte de gênero que é uma das premissas do projeto. Ela colheu quase 200 quilos de algodão. “Estou muito feliz e a palavra de ordem é continuar. Espero que mais mulheres produzam algodão assim como eu e que esse projeto nos traga muita coisa boa”.

Ao final da entrega das placas, certificados e agradecimentos, o jantar foi servido ao público e um tocador comandou a festa noite adentro.

Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos – É uma iniciativa coordenada por Diaconia, em parceria estratégica com a Embrapa Algodão e a Universidade Federal de Sergipe (UFS, Campus Sertão – Nossa Senhora da Glória). O projeto conta com o apoio técnico e financeiro do Instituto C&A.

Para a execução do projeto nos territórios, a Diaconia estabeleceu parcerias com ONG’s locais com experiência em Agroecologia que serão responsáveis pelo assessoramento técnico para fortalecer os OPAC’s e a produção agroecológica.

No Sertão do Piauí, a Cáritas Diocesana de São Raimundo Nonato desenvolve as atividades na Serra da Capivara. No Sertão do Cariri, na Paraíba, o trabalho está sendo realizado pela Arribaçã. No Sertão do Araripe, em Pernambuco, as ONG’s Caatinga e Chapada assumiram conjuntamente as ações do projeto. As atividades no Alto Sertão de Alagoas e no Alto Sertão de Sergipe estão a cargo do Instituto Palmas e do Centro Dom José Brandão de Castro, respectivamente.

No Sertão do Pajeú (PE) e no Oeste Potiguar (RN), territórios onde a Diaconia já mantém escritórios e atividades, ela mesma se encarrega da implementação das ações locais do projeto.

Depoimentos dos e das representantes das organizações parceiras do projeto:


“Este projeto traz um simbolismo muito forte para a UFS. Momento onde a Universidade comemora ter aberto as portas para receber as famílias agricultoras e organizações para trabalharem juntamente conosco na execução desse projeto. Nosso compromisso é sempre ajudar na transformação para melhorar a realidade local”. Valter Santana (Vice-Reitor da UFS)


“Nós do MST sempre acreditamos na agroecologia como um projeto político. Hoje somos o maior produtor de arroz orgânico do país. Parabenizamos todos os parceiros deste projeto por acreditar que a agricultura correta é aquela que respeita o meio ambiente, as pessoas, que defende o campo como um lugar de vida. Encerramos um ciclo e já estamos animadas e animados para o próximo” Natalice Scaremelo (MST)

“É muito gratificante ver que os nossos agricultores e agricultoras estão empenhados e empenhadas por uma cultura que ficou estagnada por muitos anos. E ver que estamos contando com o apoio do governo do estado, de empresas que já se interessaram em comprar a produção, de organizações de ensino, empresas de pesquisa, empresas financiadoras, esse projeto tende a ficar mais forte a  cada ciclo. Isso vale muito à pena”. Gildo Oliveira (Secretário Executivo do CDJBC)

“Em nome de todos e todas que estão aqui, eu quero agradecer a oportunidade de poder voltar a plantar o algodão de forma agroecológica. Muitas pessoas não acreditaram na retomada por causa da quantidade de agrotóxicos que havia na região, mas tivemos a força de vontade de mudar nosso modo de trabalhar e produzir, respeitando a natureza e produzindo alimentos de qualidade para nossa família e para as pessoas ao nosso redor. Estamos celebrando aqui não só a colheita do algodão, mas a retomada do plantio no nosso território”. Humberto Vieira dos Santos (Representante dos Agricultores e Agricultoras e presidente da Cooperaterra)

“Fico grato em ver um território com pessoas tão comprometidas, empenhadas e dedicadas diante de um super desafio que foi voltar a produzir algodão. Eu vejo um futuro enorme nessa região, não apenas pelo algodão, mas pelo trabalho da certificação participativa que em breve estará apta aqui no território. Parabéns a todos e todas”. Dalfran Gonçalves (Técnico de Inovação da Embrapa Algodão)

Confira a galeria de fotos da Festa da Colheita do Alto Sertão Sergipano