Tecnologias poupadoras de mão de obra transformam a realidade de agricultores e agricultoras no alto sertão sergipano
Microtrator, plantadeira, moto cultivador, roçadeira e colheitadeira são alguns equipamentos que buscam diminuir a mão de obra, melhorar rendimentos e oferecer qualidade de vida para famílias agricultoras

O cansaço e o desgaste físico fazem parte do cotidiano das famílias agricultoras que utilizam os meios tradicionais de trabalho no campo. Porém, com a chegada das tecnologias poupadoras de mão de obra, através do Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos no alto sertão sergipano, os agricultores e agricultoras receberam equipamentos inovadores que proporcionam melhorias significativas nos processos de preparo do solo, plantio, manejo das plantas espontâneas e colheita e, consequentemente, no avanço da qualidade de vida das famílias agricultoras beneficiadas com o Projeto.
A iniciativa coordenada pela Diaconia, em parceria com o FIDA/AKSAAM/UFV/IPPDS/FUNARBE e a Universidade Federal de Sergipe (UFS)/Campus Sertão/Nossa Senhora da Glória – SE, teve como objetivo proporcionar a formação e geração de conhecimento entre as famílias agricultoras, e técnicos e técnicas no uso das tecnologias poupadoras de mão de obra. O consultor da Diaconia nos territórios, Engº Agrº Hélio Nunes, fala sobre a receptividade dos agricultores e agricultoras para o uso das tecnologias. “Ficaram surpresos e achavam que os equipamentos não iam dar conta da produção, mas a avaliação foi bastante positiva. Já tínhamos testado os equipamentos em outros territórios e houve uma certa resistência, mas o pessoal se agradou. Por exemplo, alguns tiveram dificuldade de entender o microtrator, mas outras pessoas que trabalhavam com mecânica ajudaram a compreender o equipamento”.

O conjunto de tecnologias poupadoras de mão de obra, no âmbito do Projeto, consiste em: microtrator para preparo da terra; plantadeira; moto cultivador e roçadeira; e colheitadeira à gasolina. A partir desses equipamentos será feita uma análise do tempo de serviço, o custo e a aceitação do uso da tecnologia pelas famílias agricultoras.
A primeira formação das novas tecnologias aconteceu no Assentamento Nova Canadá, município de Poço Redondo/SE, alto sertão sergipano, contou com a participação de quatro agricultores e agricultoras multiplicadoras, dois técnicos parceiros e três professores da UFS.

Iva de Jesus, agricultora multiplicadora do projeto no alto sertão sergipano, sentiu o impacto positivo com o uso do microtrator e da plantadeira. “Antes o trabalho era muito pesado porque precisava de duas pessoas: uma para cavar o solo com a enxada e outra para depositar a semente, agora com a plantadeira, uma pessoa só faz todo processo em segundos. Com esses equipamentos, além de diminuir o custo, por não ter que gastar com aluguel de um trator de fora, vimos que facilita muito o manuseio do solo”, afirma.

Iva também é presidente da atual gestão da ACOPASE (Associação de Certificação Orgânica Participativa de Agricultores e Agricultoras do Alto Sertão de Sergipe) e, há um ano, está fazendo seu próprio plantio. Ela conta como foi a experiência de conduzir um microtrator pela primeira vez. “Fiquei bastante nervosa, mas ao mesmo tempo tive um sentimento de empoderamento de ligar um maquinário e estar manuseando ele no roçado. Historicamente, nós mulheres não fomos ensinadas a fazer esses trabalhos mais pesados. Tive medo, mas fiquei feliz de estar conseguindo”, concluiu.

A UFS vem buscando identificar, desenvolver e validar as tecnologias junto com os agricultores e agricultoras. Além de desenvolver tecnologias para a distribuição otimizada do esterco, uma das frentes da pesquisa é verificar o uso mais eficaz do caroço do algodão na alimentação da pecuária leiteira.
Com o descaroçamento do algodão colhido no campo, há separação da pluma e o caroço do algodão. Esse é bastante proteico e energético, usado na alimentação das vacas de leite. “Estamos analisando as possibilidades de uso do caroço, já que o território é uma bacia leiteira, uma atividade econômica bastante importante para os agricultores e agricultoras, e o uso do esterco nos consórcios agroecológicos com algodão, tudo isso pensando no aumento de rendimento”, afirma o Prof. Felipe Jalfim, coordenador do Projeto pela UFS.

O Prof. Dr. Felipe Jalfim ainda aponta outros desafios do Projeto Algodão. “A certificação participativa e comercialização são quesitos importantes para pensarmos, assim como priorizar o aspecto básico que é a mão de obra. Se a gente consegue solucionar e otimizar o trabalho de forma satisfatória, conseguiremos dar um passo importante para comercialização e produção”, afirma.
Mesmo com a fase inicial de adaptação e manuseio das tecnologias poupadoras de mão de obra no Projeto, as expectativas para a continuidade são positivas. “Estamos muito felizes porque estamos vivenciando esse processo depois de muito tempo junto com os agricultores e agricultoras, esse é um momento muito importante de consolidação de uma luta antiga. Ainda temos poucas tecnologias, mas para quem é profissional do campo, é um grande avanço”, disse Bayne Ribeiro, consultora técnica do Centro Dom José Brandão de Castro (CDJBC).
Para o coordenador do Projeto pela Diaconia, Doutor em Engenharia Agrícola, Fábio Santiago, o momento é histórico para o desenvolvimento do algodão consorciado com certificação orgânica participativa no semiárido do Nordeste do Brasil. Depois de mais de duas décadas, é a primeira vez que se testa tecnologias em todas as fases de cultivo do algodão agroecológico. Para essa fase inicial, o Projeto vem promovendo a execução do plano de pesquisa nas Unidades de Aprendizagem e Pesquisa Participativa (UAPs) com os agricultores e agricultoras, técnicas do CDJB e a equipe da UFS. Essa parceria vem sendo estratégica para o desenvolvimento da pesquisa e a sistematização do conhecimento. “É uma felicidade estar vivenciando esse momento tão importante para agricultura familiar, onde a produção de algodão e mais alimentos pode alavancar a inclusão de novas famílias à produção e comercialização com o selo brasileiro orgânico”.
Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos – É uma iniciativa coordenada por Diaconia, em parceria estratégica com a Universidade Federal de Sergipe (UFS, Campus Sertão – Nossa Senhora da Glória/SE). O Projeto conta com o apoio financeiro da Laudes Foundation e do FIDA/AKSAAM/UFV/IPPDS/FUNARBE. Para a execução do Projeto nos territórios, a Diaconia estabeleceu parcerias com ONGs locais com experiência em Agroecologia que serão responsáveis pelo assessoramento técnico para fortalecer os Organismos Participativos de Avaliação da Conformidade Orgânico (OPACs) e a produção agroecológica. No Sertão do Piauí, a Cáritas Diocesana de São Raimundo Nonato desenvolve as atividades na Serra da Capivara. No Sertão do Cariri, na Paraíba, o trabalho está sendo realizado pela Arribaçã. No Sertão do Araripe, em Pernambuco, as ONGS CAATINGA e Chapada assumiram conjuntamente as ações do Projeto. As atividades no Alto Sertão de Alagoas e no Alto Sertão de Sergipe estão a cargo do Instituto Palmas e do Centro Dom José Brandão de Castro (CDJBC), respectivamente. No Sertão do Pajeú (PE) e no Oeste Potiguar (RN), territórios onde a Diaconia já mantém escritórios e atividades, ela mesma se encarrega da implementação das ações locais do Projeto.
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