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Projeto + Algodão inicia fase III e passa a contar com parceria de Diaconia


Iniciativa da FAO, da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), do Ministério das Relações Exteriores (MRE), do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA) e dos governos da Argentina, Bolívia, Colômbia, Equador, Haiti, Paraguai e Peru visa fortalecer a produção do algodão agroecológico na América do Sul

A experiência da produção do algodão com certificação orgânica participativa em regime de policultivo  pela agricultura familiar no Nordeste do Brasil está mais do que nunca atravessando as fronteiras do País. Isso porque a Diaconia é uma das novas parceiras na fase III do projeto +Algodão. Essa iniciativa, que é uma promoção conjunta da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e da Agência Brasileira de Cooperação (ABC) do Ministério das Relações Exteriores e da ABRAPA, reúne ainda os governos da Argentina, Bolívia, Colômbia, Equador, Haiti, Paraguai e Peru e conta com recursos financeiros do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA). Além de Diaconia, passam a ser aliados estratégicos também nessa etapa do +Algodão a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e a Secretaria de Agricultura Familiar e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Fábio Santiago, que é coordenador do projeto “Algodão em Consórcios Agroecológicos” pela Diaconia, explica que a atual fase do projeto + Algodão propõe uma troca de conhecimentos para que haja o avanço dos modelos de desenvolvimento sustentável nessa cadeia produtiva nos Países da América do Sul. .  

“Chegamos num momento em que se quer um modelo sustentável da produção do algodão agroecológico que realmente ofereça um protocolo desde a implementação daprodução, passando pela certificação orgânica participativa em regime de policultivo com culturas alimentares e forrageiras , beneficiamento e comercialização sem atravessadores para o mercado orgânico e comércio justo do algodão”, declara Fábio Santiago. A proposta é implementar um piloto com todas as fases desse modelo em cooperação com o governo do Paraguai, onde há uma legislação nacional sobre a certificação orgânica participativa.

Um dos diferenciais da experiência de famílias agricultoras  de algodão no Nordeste do Brasil é o da certificação orgânica participativa através dos Organismo Participativos de Avaliação da Conformidade Orgânica (OPACs), que conferem a qualidade orgânica nas Unidades Familiares Produtivas (UFPs). Os OPACS são associações rurais da agricultura familiar habilitadas ao MPA para conferir o Selo Orgânico Brasileiro aos produtos produzidos pelos consórcios. “Esse é um modelo bem experimentado, em que o algodão é controlado a partir de um sistema participativo de garantia e ligação direta com o mercado. Trata-se de um modelo inclusivo, que trabalha com agricultura familiar, potencializando a inserção de  jovens e mulheres. . Ele oportuniza que as famílias agricultoras acessem um exigente  mercado consumidor pela certificação orgânica. Ademais, o modelo preconizado apresenta um protocolo de regras e boas práticas para a prevenção e controle do bicudo do algodoeiro e a lagarta rosada e melhores rendimentos nas UFPs. Esse é o legado que vamos levar para essa cooperação Sul-Sul”, explica Fábio Santiago.

Fábio Santiago (direita), Coordenador do Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos – Diaconia, em visita ao consórcio com algodão no Assentamento Jacu, em Sertânia, no Sertão do Pajeú, em Pernambuco.

Com 8 anos de atuação, o +Algodão tem levado novas tecnologias, compartilhado boas práticas e capacitações entre os pequenos agricultores e agricultoras e promovido uma série de intercâmbios de conhecimentos, como no resgate das sementes crioulas. “Nosso trabalho tem o objetivo também de contribuir com a melhoria da produtividade, com a redução de custos de produção e também de promover o desenvolvimento de tecnologias adaptadas a pequenas áreas de produção algodoeira”, conta a coordenadora do projeto +Algodão, Adriana Gregolin.

Adriana Gregolin, coordenadora do Projeto +Algodão,
em visita a um campo de plantação de algodão.

A 3ª fase do projeto, que ocorre entre 2021-2024, trabalha com os seguintes eixos estratégicos:  máquinas adaptadas a pequenas áreas de produção; Assistência Técnica e Extensão Rural; controle do bicudo-do-algodoeiro; Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC); inserção do algodão e seus coprodutos em mercados, certificação e associação; e a comunicação estratégica dos resultados e das boas práticas impulsionadas pelo projeto.

Na análise de Adriana, a Diaconia e a experiência brasileira na produção de algodão ocupam um papel importante nessa nova fase. “A Diaconia tem um papel bastante importante, pelo diálogo que mantém com as outras entidades técnicas, pelo conhecimento que tem no campo e por ter construído esse trabalho por meio do Algodão Agroecológico. Com a Diaconia a gente espera contar com essa base de conhecimento também em outros projetos em que ela pode participar, que também trabalham com algodão”. 

Inicialmente planejada para acontecer presencialmente, essa fase do projeto começa com as capacitações virtuais devido aos riscos envolvidos na pandemia. Alguns dos módulos das formações serão preparados pela Diaconia. Adriana, porém, tem a expectativa de que tão logo a segurança sanitária permita sejam realizadas visitas in loco e treinamentos presenciais no campo do Paraguai, primeiro País beneficiado pela fase 3 do +Algodão. 

O Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA), que é parceiro da Diaconia no projeto “Algodão em Consórcios Agroecológicos no Semiárido do Brasil” destaca os resultados positivos do trabalho com as famílias agricultoras  e as expectativas dessa nova etapa com a entrada no projeto +Algodão. 

“Essa nova proposta visa dar uma ênfase no aspecto de cooperação sul-sul e permitir que outros países, como Paraguai e Argentina, possam também se aproveitar com essa experiência brasileira e com isso a gente leve esse conhecimento para outros atores, outros agricultores e agricultoras, em países vizinhos. Para isso estamos usando a estrutura do FIDA, que conta com mais de 40 escritórios no mundo. Vamos fazer com que os documentos, relatórios e produtos sejam disseminados não só em Português, como em outras línguas. Esse aspecto da gestão do conhecimento vale uma relevância específica, pois está sendo construída uma documentação dessa experiência em forma de cartilha, com todos os dados e informações, para facilitar a replicação no Brasil e em outros países”, afirma Hardi Vieira, oficial de programas do FIDA.

Ele avalia que os projetos que o FIDA tem participado nos territórios de Sergipe e do Piauí têm conseguido alavancar a importância da atividade do algodão agroecológico, que vinha perdendo atenção e investimentos nos últimos anos para outras culturas do semiárido, como a cajucultura, apicultura e a caprino-ovinocultura.  “A intervenção por meio do projeto Algodão Agroecológico tem mostrado a viabilidade dessa atividade em alguns outros territórios que não vinham recebendo a devida atenção. Além disso, tem potencializado o nosso trabalho com algumas redes de assistências ́ técnica que atuam em colaboração com a própria Diaconia”, afirma Hardi Vieira.

Projeto Algodão em Consórcios Agroecológicos – É uma iniciativa coordenada por Diaconia, em parceria estratégica com o FIDA/AKSSAM/UFV/IPPDS/FUNARBE e a Universidade Federal de Sergipe (UFS, Campus Sertão – Nossa Senhora da Glória) e organizações parceiras nos territórios de atuação do projeto. No âmbito da Cooperação Sul-SUL, há parceria com a FAO/MRE-ABC/ABRAPA através do Projeto + Algodão. O projeto conta com o apoio técnico e financeiro da Laudes Foundation. Para a execução do projeto nos territórios, a Diaconia estabeleceu parcerias com ONGS locais com experiência em Agroecologia que são responsáveis pelo assessoramento técnico para fortalecer os OPACS e a produção agroecológica. No Sertão do Piauí, é a Caritas Diocesana de São Raimundo Nonato que desenvolve as atividades na Serra da Capivara. No Sertão do Cariri, na Paraíba, o trabalho está sendo realizado pela Arribaçã. No Sertão do Araripe, em Pernambuco, as ONGS CAATINGA e Chapada assumiram conjuntamente as ações do projeto. As atividades no Alto Sertão de Alagoas e no Alto Sertão de Sergipe estão a cargo do Instituto Palmas e do Centro Dom José Brandão de Castro, respectivamente. No Sertão do Pajeú (PE) e no Oeste Potiguar (RN), territórios onde a Diaconia já mantém escritórios e atividades, ela mesma se encarrega da implementação das ações locais do projeto.